Economia

Câmara do Porto disponível para apoiar ligação da indústria à moda de autor

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No âmbito da 47.ª edição do Portugal Fashion, Rui Moreira manifestou a disponibilidade do Município do Porto em apoiar a ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários, promotora do evento, a ligar a criatividade dos designers à indústria da produção e confeção, aproveitando a oportunidade de "reindustrialização" que a pandemia trouxe. Este fator é determinante para reter o talento e o know-how dos criadores, e também para lançar a cidade do Porto e a Região Norte como hub das indústrias criativas, assenta.

Na conversa "O Porto de Partida da Indústria da Moda", em que também participou o presidente da ANJE, Alexandre Meireles, Rui Moreira destacou aquela que foi a evolução do Portugal Fashion e da própria indústria da moda em Portugal ao longo das últimas décadas. "A verdade é que houve uma grande mudança, uma adaptação ao mercado, uma qualificação através do design e da moda", referiu.

No entanto, fruto da evolução mundial da indústria a um ritmo muito mais acelerado e fruto ainda do aparecimento de mercados onde a etiqueta "luxo" é valorizada, o país - e em especial a Região Norte, onde se concentra a maior parte da indústria - foi secundarizado à imagem de exímio produtor na confeção, "mas sem marca associada", continuou o autarca. É precisamente nesse âmbito, palpita Rui Moreira, que é preciso fazer mais e melhor, e tendo o Município do Porto há seis anos criado a marca "Porto.", hoje internacionalmente reconhecida, está disponível a apoiar essa mudança, de que é elucidativo o protocolo recentemente assinado entre a Câmara do Porto e a ANJE.

"Acreditamos que as campanhas de marketing que temos lançado, não só no turismo e na atração de investimento, devem projetar-se também na indústria. De alguma maneira, a associação da cidade do Porto a estas plataformas é um win win. Por um lado, o Porto pode ajudar, tendo hoje um reconhecimento internacional maior do que tinha há alguns anos através da sua marca; por outro, temos uma indústria que conseguiu de facto ganhar maturidade e a ANJE como mediadora, através de uma iniciativa [o Portugal Fashion] que pretendemos apoiar. Temos pena que o Estado Central não apoie mais, mas este é o momento", sublinhou o presidente da Câmara do Porto.

Opinião partilhada pelo presidente da ANJE que, na conversa moderada por Raquel Strada (pode assistir AQUI na íntegra), insistiu na ligação que deve existir entre moda e indústria, criação e confeção, e no trabalho que a associação tem desenvolvido nesse sentido.

"A estratégia da ANJE para o futuro é ser o centro onde conseguimos juntar a indústria com os nossos designers. (...) É preciso trabalhar mais o modelo B2B (business to business) e trazer mais a indústria para o Portugal Fashion. Sendo a nossa base estratégica o Porto, queremos que o Norte inteiro faça parte deste nosso projeto", sublinhou Alexandre Meireles, considerando ser este momento de crise uma "grande oportunidade", tanto para o Portugal Fashion, como projeto que apoia a moda nacional há 25 anos, como para a plataforma Bloom, criada há dez anos para alavancar, precisamente, os jovens designers que estão a dar os primeiros passos.

Neste painel do programa "Thinking Fashion", Rui Moreira também partilhou que a "bazuca" deve ser empregue essencialmente "nos campeões ocultos", referindo-se às empresas que, "apesar de não estarem na ribalta, têm conseguido fazer o seu trabalho", incluindo no leque as que operam no universo da moda. O desafio, aclara o presidente da Câmara do Porto, está portanto identificado: "Precisamos que a indústria tenha marca" e, para que o match (ligação) entre a criatividade e produção ocorra, acrescentou por seu turno presidente da ANJE, a associação está comprometida em reunir as várias associações setoriais para a elaboração de uma estratégia conjunta, focada sobretudo "em produzir novas mentalidades".

Uma assunção de compromisso que, continuou Alexandre Meireles, já se tem revestido de outras ações, como o incentivo da ANJE na promoção dos designers e das marcas nas plataformas online, sob "o chapéu do Portugal Fashion", ou a criação de um "acelerador digital para as indústrias tradicionais", que está a avançar.

Com a pandemia, emergiram as fragilidades das cadeias de valor internacionais e o presidente da Câmara do Porto destacou este ponto na conversa para referir também que "a reindustrialização é a grande oportunidade de Portugal", porque hoje os compradores (buyers) estarão dispostos a pagar um pouco mais por um produto final, que seja de qualidade e entregue a tempo, considera. Por outro lado, aconselha a indústria "a olhar para mercados africanos e sul-americanos, onde o facto de Portugal ser Europa conta muito".

Na conversa, Rui Moreira sublinhou ainda que a cidade deve apostar na diversidade da oferta. "Com todo o respeito que tenho pelo turismo, não queremos que a cidade do Porto seja um monoproduto (...). Tendo conseguido um reconhecimento internacional enquanto marca de cidade, queremos naturalmente alargar isto a um ecossistema que nos torne mais resilientes", grupo em que inclui a moda, o design e também a gastronomia.

A 47.ª edição do Portugal Fashion decorreu entre quinta-feira e sábado, na Alfândega do Porto, quartel-general de um evento que experimenta sempre outras passerelles na cidade. Adaptado às exigências da pandemia, entre as medidas adotadas incluiu-se um horário maioritariamente diurno, a limitação de público, desfiles ao ar livre, transmissões multimédia e a definição de um plano de contingência.