Sociedade

Breaking nos bairros do Porto ao ritmo de um amor genuíno

  • Porto.

  • Notícia

    Notícia

“Aquele movimento de esticar uma perna, e a outra dobrada ir para o lado da perna e, com as duas mãos, ficar assim”, é o que o Dinis mais gostou de aprender. Confusos? A descrição pode dar a ideia de algo muito complicado, mas as meninas e meninos do Bairro do Lagarteiro já conhecem todos os segredos e truques do breaking que o professor Roberto Mendes vai demonstrando. Nas férias da Páscoa, por ali, como em Contumil, a dança faz-se “Ao Ritmo do Bairro”.

Para quem não sabe o que é o breaking, o Dinis dá umas luzes: “é um tipo de ginástica, misturada com dança, a fazer acrobacias”. Nascido nas ruas de Nova Iorque, o breaking – ou breakdance – é praticado em jeito de batalha de movimentos. Para a Bia, é mais do que isso, “é uma diversão para toda a gente”.

Sim, mas, garante Dinis, “quando é para competir, eu levo um bocado a sério”. Quem o vê no meio da roda, ao ritmo das palmas dos colegas, sabe, no entanto, que a diversão é que comanda. E o jovem de sete anos assume que, ali, “sinto que estou muito divertido e a relaxar mais”.

Depois do Desporto no Bairro e do projeto TODOS, inserido no programa AIIA Porto - Abordagem Integrada para Inclusão Ativa, promovido pela Câmara do Porto, e que já envolveu, desde 2018, quatro centenas de jovens, ficou a certeza de que o breaking não haveria de deixar os bairros do Porto. Por ali, já todos esperam o momento, durante as férias, em que os professores que já conhecem chegam com novos movimentos. Assim tem sido na Páscoa, como no Natal e no Verão.

E a confiança cresce de dia para dia. E é difícil? Parece que não. “É preciso ter muito treino, ter atenção e esforçar-se”, explica Sofia. “E respeitar os professores”, acrescentam o Dinis e a Bia.

Respeito e afeição são as palavras que unem os jovens aos orientadores deste projeto. “Amigos”, prefere chamar-lhes Max Oliveira, o curador desta e das outras atividades que têm levado o breaking aos bairros do Porto, transformando-os não apenas em lugares de diversão, mas de emoções.

“Os anos vão passando e sinto-me cada vez mais em casa porque os abraços, o carinho, o amor que eles demonstram é impagável. Não tenho como lhes dar de volta”, confessa, acrescentando que “tudo isto se resume a pessoas e o grande objetivo é sentir esse amor genuíno que as crianças não escondem”.

O que este “Ao Ritmo do Bairro” quer parece quase tão simples como aprender breaking. Talvez mais. “Ocupar o tempo de forma positiva, mostrar [aos jovens] mais uma possibilidade de amor, neste caso amor pelo breaking, que é uma modalidade, neste momento, olímpica, e que leva muitos jovens a um futuro risonho”, afirma Max Oliveira.

Fazer com que todos se sintam como a Bia: “confortável” e com a certeza de que aqui, a dançar, “tudo vai dar certo”. Ou como diz o curador a incentivar quem tenta girar com a cabeça no piso de relva sintética: “a confiança é meio caminho”.

Para Max Oliveira, o breaking nestes cenários está a “exercer uma das suas funções génese que é a inclusão e a disrupção social”. “Percebemos que quem pratica isto não se coaduna com certo tipo de consumos, certo tipo de comportamentos. É impossível se levares esta modalidade a sério”, acredita.

Desde que se tornou uma modalidade olímpica, muitos preconceitos caíram por terra. Max Oliveira garante que não é apenas isso: “quando as coisas têm qualidade e se regem por serem genuínas e autênticas, normalmente triunfam. E o breaking, em 50 anos, está a triunfar”. Triunfa na modalidade de competição, na abertura de caminhos, no envolvimento da comunidade, mas também na sua “função muito importante que as pessoas às vezes de esquecem: divertir”.

Nos bairros do Porto, e deixando-se levar pelo ritmo do breaking, os mais novos estão todos preparados para a batalha. Da diversão, e do amor.