Cultura

Braga quer ser Capital Europeia da Cultura em 2027 e o Porto apoia a candidatura

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O presidente da Câmara do Porto participou na cerimónia pública de oficialização da candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura 2027. Rui Moreira salientou a “forte identidade” da cidade minhota e o “património histórico” como vantagens, e deu o seu testemunho sobre a Porto 2001, enquanto momento de viragem na democratização do acesso à cultura, mas também na exigência que se passou a depositar nos decisores políticos em relação à oferta cultural das cidades.

As candidaturas são aceites até novembro do próximo ano, mas Braga posiciona-se já na corrida nacional e arregimenta apoios de peso. Um deles vem do Porto, cidade que já soma no seu currículo o título de Capital Europeia da Cultura.

Foi há 19 anos, quase duas décadas, o tempo suficiente para, com pragmatismo, analisar o que correu bem e o que correu mal. “Olhamos hoje a uma distância considerável para o que foi o impacto na cidade, na altura muito discutido e que até gerou grandes controvérsias políticas”, recordou Rui Moreira na sessão pública, em que participou a convite do presidente da Câmara, Ricardo Rio, e que foi emitida online.

Sem nenhum cargo político nessa altura, o presidente da Câmara do Porto acompanhou, no entanto, de perto o processo. “O grande impacto que a Porto 2001 teve foi na transformação dos públicos e no seu cruzamento. Esse é de facto o seu grande legado”, sublinhou Rui Moreira, constatando que anteriormente “a cultura na cidade do Porto era de elite”.

Quando decidiu candidatar-se como independente à Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira secundou-se de um dos rostos mais carismáticos da programação da Capital Europeia da Cultura. “Com um bracarense que tinha estado ligado à Porto 2001 e que foi seguramente o seu melhor programador, Paulo Cunha e Silva, lançámos uma estratégia a dizer que o futuro da cidade passava, acima de tudo, por um pilar: a cultura”, recordou.

Uma linha governativa que bebe desse início de milénio, assumiu o autarca, que igualmente anuiu que com a Capital Europeia da Cultura 2001 surgiu a oportunidade da regeneração urbana do Porto, embora neste campo considere que “nem tudo foram rosas”, quer porque houve obras contestadas, outras que decorreram em cima do festival cultural, e ainda outras, como a da Casa da Música, que não colheram a simpatia de muitos, inclusive do antigo presidente da República, Jorge Sampaio, que na altura repreendeu a derrapagem de custos.

“Provavelmente, nunca teria dito o que disse se tivesse resvalado em Lisboa. O Porto também foi vítima desse discurso. É bom que o meu amigo Ricardo Rio saiba que esta ameaça continuará presente”, avisou o presidente da Câmara do Porto.

Outro apontamento negativo foi para o fracasso nas sinergias, que poderiam ter potenciado de imediato a afirmação internacional da cidade. “Fomos Capital da Cultura ‘a meias’ com Roterdão, mas não fomos capazes de fazer a ponte suficiente”, lamentou Rui Moreira.

Nada, contudo, que tenha comprometido o sucesso da aposta, confirmou. “Quando hoje olhamos para a cidade do Porto, em que a cultura é absolutamente importante, como ar que respiramos, é bom não esquecermos que esse mérito – estou à vontade, porque não é seguramente meu – veio da experimentação que foi feita em 2001. Fomos capazes de criar uma procura diferenciada e hoje insaciável”, frisou.

“O cidadão ganha autoestima neste processo se deixar de ser apenas espectador. Passa a ser o curador das suas ideias, a ser ele próprio o ator de transformação da sua cidade”, completou.

Esta visão Rui Moreira encontra-a na cidade em Braga, defendendo publicamente a sua eleição para 2027. “Espero que Braga seja escolhida, porque merece. É uma cidade absolutamente extraordinária: consegue aliar uma componente histórica com uma forte identidade, e por isso não corre também o risco de ser estrangeirada”.

E, deixando antever que uma vitória de Braga possa desencadear uma estratégia efetiva entre Porto – Braga – Galiza, Rui Moreira propôs ainda a Ricardo Rio que explore a componente do património gastronómico.

No painel de convidados à candidatura de Braga, apresentada a partir do Altice Forum Braga, participaram também o presidente do Governo Regional da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, e a membro do júri internacional Seleção e Monitorização Capital Europeia da Cultura, Cristina Farinha.

Aveiro, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Leiria, Guarda, Oeiras e Viana do Castelo são as outras nove cidades que já manifestaram intenção em serem Capital Europeia da Cultura 2027, que decorrerá em simultâneo em Portugal e na Letónia. As candidaturas estão abertas por um ano e os escolhidos são anunciados em 2023.

Concerto para 2027 plantas

Na candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura 2027 foi apresentada a instalação artística “Concerto para 2027 plantas”, da artista sonora Cláudia Martinho. Na obra, as plantas são conectadas a sensores que captam os seus impulsos eletromagnéticos, convertendo-os em som e criando assim uma polifonia de vozes vegetais, como se de um coro se tratasse.

Estas plantas, em grande parte medronheiros, uma das espécies autóctones da região de Braga, pretendem simbolizar e evocar a energia vital do território e dos seus cidadãos que, no contexto pandémico atual, não puderam estar, de corpo presente, no anúncio da formalização da candidatura..