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Bispo do Porto promete agir com coração grande mas admite intervenção política

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Comunicação social, política, orientação sexual, guerra na Síria, ordenação de mulheres ou celibato dos padres - D. Manuel Linda, não contorna as questões e fala abertamente.

D. Manuel Linda faz a entrada solene na Diocese do Porto neste domingo, dia do seu aniversário, conduzindo uma eucaristia na Sé Catedral, às 16 horas, mas o novo Bispo do Porto tomou posse hoje canonicamente perante o conselho de consultores do Paço Episcopal, e mostrou desde já as linhas com que vai orientar o seu magistério. Em conferência de imprensa, logo a seguir ao ato, falou do humanismo do seu antecessor e também do ataque militar Ocidental desta manhã na Síria, do celibato dos padres, da ordenação de mulheres, da lei ontem aprovada na Assembleia da República sobre a mudança de género e da doutrina do Papa Francisco, entre outros temas delicados.

Desde logo, D. Manuel Linda explicou que fez esta intervenção por querer que o seu "primeiro ato de relação com a nova Diocese fosse por intermédio dos jornalistas". E isto porque, "no tempo de hoje, a procura e a descoberta da verdade passa pelo jornalismo criterioso".

Estava dado o mote da frontalidade pelo novo responsável diocesano, que assume ter como um dos grandes desafios "ser portuense no meio dos portuenses". Garante mesmo que "é o primeiro esforço que vou fazer".

O prelado anunciou ir seguir algumas das características do seu antecessor, D. António Francisco dos Santos (falecido há sete meses), entre as quais estava a defesa dos mais desfavorecidos. Ainda que prometendo "exercer o ministério com a simplicidade que caracteriza a Igreja", nomeadamente adoptando "amabilidade", "simpatia" e "coração grande", D. Manuel Linda disse porém estar disposto a fazer intervenção política. "O exercício da caridade implica sujar as mãos na realidade do dia-a-dia. Pode haver situações em que, mais do que isso, tenha de haver também a denúncia. Se for necessário, evidentemente que o farei", afirmou, citado pela agência Lusa.

O novo responsável da Diocese de Porto, nomeado pelo Papa Francisco a 15 de março, falou depois de alguns dos temas mais atuais no seio da Igreja Católica e aproveitou para afirmar que esta
não está em crise nem vive "o fim da linha", mas sim o "princípio de uma nova era". 

"Não estamos aqui como administradores de insolvência para encerrar a causa", advertiu.

Seguiu-se o celibato dos sacerdotes que, segundo D. Manuel Linda, "nesta fase, ainda se justifica plenamente". Contudo, "esta questão não é dogmática ou de natureza imutável", observou, ao contrário da ordenação de mulheres que considera ser uma "coisa diferente".

Já sobre a eutanásia, o Bispo disse ser "100% contra", mas anunciou que não irá "para a praça pública arregimentar tropas". Ainda assim, manifestará a posição da Igreja na "formação de consciências", defendendo que este é um "tema humano e não religioso". E declarou: "apressar a morte é algo que me choca".

Quanto à lei aprovada ontem no Parlamento e que permite a mudança de género a partir dos 16 anos, o Bispo do Porto considera que "naquela idade, a pessoa não tem maturidade psicológica" para tal decisão, pelo que "é um contrassenso permitir uma decisão tão importante a pessoas que não têm o seu temperamento ainda formado".

O ex-Bispo das Forças Armadas e de Segurança falou ainda sobre o ataque militar realizado nesta manhã pelos EUA, Reino Unido e França na Síria e manifestou preocupação com o que possa resultar numa terceira guerra mundial. "O Papa Francisco tem falado, há mais de um ano, de uma terceira guerra mundial por episódios. Oxalá ela não venha agora num episódio quase definitivo", exclamou D. Manuel Linda, lamentando "os populismos vindos de muitos lados do mundo e sem cobertura ideológica de direita ou de esquerda", bem como o uso da "afirmação pessoal com meios modernos de guerra" por parte de quem não tem "nenhum dado de cultura política por trás de si".

"Como católicos, temos de alertar para a dimensão humana e a dimensão religiosa, e rezar por sabedoria e lucidez aos condutores dos povos", apelou o novo Bispo do Porto.

Neste domingo, dia do seu 62.º aniversário, D. Manuel Linda preside a uma celebração eucarística na Sé Catedral, às 16 horas, motivo por que estarão condicionadas a circulação e paragem de veículos na Rua Tareija Vaz Altaro, na Avenida Vímara Peres e no Terreiro da Sé.