Cultura

Biblioteca(s) Errante(s) para levar livros a todos os cantos da cidade

  • Paulo Alexandre Neves

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A Biblioteca de Cinema do Cineclube do Porto e a Biblioteca de Assuntos Portuenses, ambas a funcionar no Museu do Porto - Casa do Infante, são os dois primeiros núcleos de microbibliotecas, a criar até 2024, face ao encerramento temporário da Biblioteca Pública Municipal para obras de requalificação e ampliação. Foi o próprio presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, a dar o nome ao projeto: Biblioteca Errante.

"O encerramento temporário da Biblioteca Pública é um enorme desafio. Corresponde e responde àquilo que era uma velha aspiração da cidade. Há mais de 20 anos que se falava numa nova biblioteca", assegurou, esta quinta-feira, na Casa do Infante, o presidente da Câmara, durante a apresentação da "Biblioteca Errante", recordando que o projeto, do arquiteto Eduardo Souto Moura, trará "uma nova biblioteca, com outra capacidade".

Até lá, o acervo bibliográfico vai estar à disposição da população em geral em 15 núcleos de microbibliotecas, a serem criados até 2024. "Era preciso continuar a ter um serviço disponível ao público. Lembrei-me, então, da ideia de 'Biblioteca Errante', bastante romântica, não tanto em Portugal, mas de tradição do mundo otomando", confessou o presidente da Câmara, garantindo que o projeto "não está fechado".

Para Rui Moreira, que estava acompanhado da vereadora da Juventude, Catarina Araújo, "é importante que alguns núcleos sejam mais temáticos, outros mais generalistas. Quando a Biblioteca Pública voltar a abrir, provavelmente vamos poder manter este modelo. Vai ser um teste à resposta da população. Estamos do lado da oferta, não podemos dominar a procura. Esperamos que ela seja grande", acrescentou.

"Este é um projeto que nasce para a cidade"

De acordo com o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, Jorge Sobrado, "este é um projeto que nasce para a cidade". "Não serão casas estáticas, apenas de portas abertas. Serão desenvolvidas com uma agenda de atividades de mediação e apoio à leitura", frisou.

"Esperamos ter 15 núcleos da Biblioteca Errante até ao final de 2024", adiantou o diretor, esclarecendo que a Biblioteca Almeida Garrett será o espaço central deste projeto. Hoje, na Casa do Infante, foram apresentadas, publicamente, as bibliotecas dos Assuntos Portuenses e de Cinema do Cineclube do Porto. A primeira vai colocar à disposição da população o seu fundo bibliográfico, composto por cerca de 50 mil títulos entre monografias, periódicos e artigos de publicações em série, abrangendo diversas áreas do conhecimento.

A biblioteca dispõe de uma sala de leitura, com 16 lugares e com capacidade para trabalhos de grupo. Está equipada com dois postos de pesquisa com acesso à internet e cobertura de rede sem fios (Wi-Fi).

A Biblioteca de Cinema do Cineclube do Porto (instituição que hoje comemora os 78 anos de existência) compreende mais de 1400 unidades físicas, que inclui um conjunto de periódicos, edições do Cineclube, boletins informativos, catálogos, fotografias e raras revistas da especialidade. "Um importante património que é de todos e por todos pode ser usufruído", frisou a presidente do Cineclube do Porto, Ana Carneiro, também presente na cerimónia.

O acervo contempla uma coleção de material com os programas das sessões do cineclube no Cinema Batalha, logo a partir de 1946, assim como documentação sobre as sessões censuradas, boletins informativos e catálogos, para além dos primeiros números de revistas especializadas como a Cahiers du Cinéma e a Sight and Sound.

Destaca-se o material relativo à Semana do Novo Cinema Português, realizada em 1967, e que foi fundamental para o nascimento do Cinema Novo em Portugal, que inclui fotografias, relatórios e artigos sobre esse momento decisivo.

Bibliotecas temáticas

Um espaço dedicado à literatura infantojuvenil será criado na Biblioteca Popular de Pedro Ivo, enquanto a poesia terá enfoque na Casa de Eugénio de Andrade. Já o Museu do Vinho do Porto vai receber a Biblioteca do Vinho do Porto e o Reservatório a Biblioteca de Arqueologia. Na Casa Marta Ortigão Sampaio ficará a Biblioteca de História de Arte e no Museu Guerra Junqueiro a biblioteca do próprio autor. Também os pavilhões móveis da Feira do Livro, a instalar no Parque do Covelo, vão receber a Biblioteca de Humor e Banda Desenhada.

Três anos depois, o Bibliocarro volta, igualmente, a estar disponível como biblioteca móvel (com destaque para a literatura infantojuvenil, ficção, poesia e ciência). Já o Museu da Indústria receberá a Biblioteca sobre Indústria.

Tendo como públicos-alvo as famílias, crianças e leitores especializados, o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, deixou uma garantia, citando o autor alemão Herman Hesse: "As bibliotecas não se medem aos palmos. Aquilo que conta não é a quantidade, nem para a biblioteca nem para a qualidade do leitor". "Podemos encontrar a força do caráter, da identidade, como do Porto, não apenas nas grandes catedrais (como a Biblioteca Pública Municipal), mas também nas pequenas capelas (como as microbibliotecas)", acrescentou Jorge Sobrado.

O projeto da Biblioteca Errante terá algumas ações complementares, como seja a radicação temporária da Biblioteca Sonora (estúdios de gravação) nos pavilhões móveis da Feira do Livro, conservando equipa técnica e serviço de voluntários, um estudo técnico, elaborado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), tendo em vista um projeto de acessibilidade e digitalização dos periódicos históricos da cidade e, por fim, a constituição de fundo específico de "Autores Fundamentais do Porto".