Cultura

Biblioteca Popular de Pedro Ivo reencontra-se com a cidade no Dia da Criança

  • Paulo Alexandre Neves

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A data não foi escolhida por mero acaso. A Biblioteca Popular de Pedro Ivo, que hoje reabriu ao público, é um espaço dotado de um fundo infantojuvenil, com cerca de mil livros disponíveis para consulta e empréstimo domiciliário. Aqui, as crianças poderão dar azo à imaginação e viajar com os livros para outros locais. Incluída no projeto “Biblioteca Errante”, a oferta abarca a primeira infância, infância e público juvenil, mas também obras de vários géneros e áreas do conhecimento, como a literatura, a história, a geografia, as ciências, a filosofia, a psicologia e a banda desenhada.

"Chegámos à conclusão que a ideia fundadora de uma biblioteca infantojuvenil e popular constitui a melhor opção para a Biblioteca Pedro Ivo, quer como programa de uma infraestrutura com estas características, quer como aposta e instrumento do projeto 'Biblioteca Errante'", sublinhou o presidente da Câmara do Porto, durante a reabertura do espaço, localizado na Praça do Marquês.

A Biblioteca Popular de Pedro Ivo – que completa, este ano, 75 anos de existência em 2023 – "encarna essa ideia no seu conceito e na sua vocação originais. A biblioteca precisa destas dinâmicas de criação e de público. E um projeto cultural ganha com uma âncora de serviço, de porta aberta, e de referências simbólicas e comunitárias", acrescentou Rui Moreira.

Plano de medidas para as bibliotecas municipais

A reabertura da Biblioteca Popular de Pedro Ivo insere-se num projeto mais vasto, a que o próprio presidente da Câmara deu o nome de "Biblioteca Errante" e que, até ao final de 2024, terá em funcionamento 15 microbibliotecas, espalhadas pela cidade.

O projeto é uma resposta do Município ao encerramento temporário da Biblioteca Pública Municipal, previsto para 2024. "Estas iniciativas não surgem por acaso ou de forma avulsa. Decorrem de uma visão integrada da política cultural da cidade", lembrou Rui Moreira.

Neste âmbito, o presidente da Câmara revelou que aprovou, hoje mesmo, um "Plano de medidas de reforço e modernização dos serviços das bibliotecas municipais e mitigação dos efeitos de encerramento temporário da Biblioteca Pública Municipal". Um pacote de 15 medidas, que vai permitir colmatar os mais sérios condicionamentos do fecho da Biblioteca Pública e, ao mesmo tempo, incrementar e modernizar serviços, colocando as bibliotecas municipais num contexto de melhor serviço público. "Proximidade, identidade (portuense) e digitalização são as ideias força deste pacote", disse Rui Moreira.

Nesse âmbito, será salvaguardada a disponibilização do fundo de periódicos históricos do Porto para trabalhos de investigação, noutras instalações, até à concretização de outras respostas, nomeadamente por via da digitalização. Em causa estão títulos como o Jornal de Notícias, O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, O Portuense, a Gazeta Literária do Porto e o Periódico dos Pobres do Porto, entre outros.

"A renovação regular dos fundos de livre acesso (para consulta e empréstimo), através de obras mais recentes, provenientes de Depósito Legal, com a recuperação do passivo de catalogação, é outra das prioridades, tal como o reforço do apoio municipal às bibliotecas escolares e a constituição de um fundo local dedicado a autores do Porto", acrescentou o autarca portuense.

"Não queremos ser arquivos"

A reabertura da Biblioteca Popular de Pedro Ivo é "um reencontro da biblioteca com a sua ideia fundadora, com o seu conceito original, e com uma função de proximidade das bibliotecas municipais", afirmou o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto.

"Este é um sinal do compromisso presente das bibliotecas municipais, de continuarem a ser casas abertas, de encontro dos livros com os leitores, dos investigadores com as suas fontes. Não queremos ser arquivos", acentuou Jorge Sobrado.

A Biblioteca - que funcionará de terça-feira a sábado, das 10h às 13h e das 14h às 18h - vai acolher programação regular de atividades infantojuvenis. Contará também nas suas estantes com livros da autoria de Pedro Ivo, pseudónimo de Carlos Lopes e patrono do espaço, escritor nascido no Porto e herdeiro das influências de Júlio Dinis e Camilo Castelo Branco.

"Cor(p)o de Intervenção"

Hoje foi também apresentado o projeto cultural vencedor do concurso de ideias para a renovada biblioteca, intitulado "Cor(p)o de Intervenção" – Coro Intergeracional e Multicultural da Palavra Dita. A iniciativa é dirigida aos vários públicos adultos nacionais e estrangeiros que se cruzam no território geográfico da Biblioteca Popular, proporcionando um espaço de diálogo e construção que versará sobre os temas atuais que desafiam estas comunidades.

O trabalho artístico com 60 candidatos dará corpo a um coletivo plural de intervenção poética, atualizando o "Cancioneiro do Porto", a partir de um equipamento histórico da cidade. "Vamos fazer um coro, não tradicional, mas de palavra dita", revelou Catarina Rocha, do Bairro dos Livros, vencedor do concurso de ideias para a Biblioteca Popular.

O projeto, que terá produção e conceção artística do Bairro dos Livros, contará com as participações do rapper MAZE (Dealema), do poeta e diseur Renato Filipe Cardoso, da escritora e bibliotecária Raquel Patriarca e do investigador e livreiro Paulo Brás. Culminará num espetáculo coletivo no Coreto da Praça Marquês de Pombal, com pré-apresentações previstas durante a Feira do Livro do Porto.

Até lá, está previsto um conjunto de iniciativas de programação e mediação cultural, desde conversas literárias, sessões de spoken word e oficinas artísticas, assim como a encomenda de obras originais de texto e som, desenvolvidas em colaboração com o Coro, que decorrem entre junho e novembro.