Urbanismo

Biblioteca em S. Lázaro será como voltar a uma casa que ilumina a cidade ao redor

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A “aventura”, como lhe chama o presidente da Câmara do Porto, é quase digna de uma epopeia literária, daquelas raras – nunca antes se fechou totalmente uma biblioteca com 27 quilómetros de livros e cerca de um milhão de documentos – com a capa dura de um edifício que representa um património setecentista e vários capítulos, desde o fecho gradual à reabertura, requalificado e ampliado, daqui a três anos. Projeto de Eduardo Souto de Moura para a Biblioteca Pública Municipal (BPMP), um investimento municipal de 26,5 milhões de euros, quer fazer do espaço uma casa que ilumina a cidade ao redor.

Na apresentação da visão do arquiteto, na tarde de sexta-feira, o presidente da Câmara do Porto enalteceu o facto de Eduardo Souto de Moura “ter acreditado na nossa persistência” em entregar a requalificação da BPMP nas mãos de alguém que já aqui tinha “um projeto de autor”, uma vez que o arquiteto já havia intervindo em vários espaços ao longo dos anos.

“Se fizéssemos concurso público, essa intervenção de autor seria perdida ou ia ficar aqui uma salada russa”, justifica Rui Moreira, certo de que “não são muitas as cidades que se podem dar ao luxo de desperdiçar os seus melhores”.

[O projeto] garante a coexistência com uma pré existência patrimonial que o arquiteto Souto de Moura, naturalmente, protege como ninguém”.

Sobre o projeto, o autarca considera que “estamos a falar de um conceito diferente, que não é nada do que aqui temos. Mas que, ainda assim, garante a coexistência com uma pré existência patrimonial que o arquiteto Souto de Moura, naturalmente, protege como ninguém”.

Com uma falta de capacidade para acomodar o depósito legal nas melhores condições ou receber leitores, uma patente exposição ao risco de incêndio e um acumular de “tralha” e “edificiozecos” para responder a necessidades várias, Rui Moreira considera que a “vetustez do tempo” fez com a BPMP “já não fosse uma biblioteca”.

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Com as obras a iniciar no final do ano, a “biblioteca de S. Lázaro” vai triplicar a capacidade e trazer várias outras valências. A cave ficará dedicada a depósito, o rés-do-chão será de acesso público, os pisos acima destinam-se a serviços e o último será apenas técnico.

Além disso, deverá nascer ali o Museu da Palavra, uma nova Biblioteca Sonora e um espaço para atividades ao ar livre. Possivelmente um claustro e um pátio técnico a ligar as várias alas. Tudo, acredita Rui Moreira, “boas razões para fazer este investimento”. “Se queremos, de facto, que o livro continue a existir, temos que fazer investimentos, ser persistentes, consequentes”, reforça.

Esta é a ambição de todos os arquitetos: desenhar o mais possível para pôr o edifício com qualidade."

“Feliz” por ter nas mãos um “projeto quase completo”, Eduardo Souto de Moura confessa que esta “é a ambição de todos os arquitetos: desenhar o mais possível para pôr o edifício com qualidade nas várias escalas”, seja o restauro, o uso da arquitetura contemporâneo na ampliação, a ligação entre ambos e, ainda, a componente do mobiliário.

O arquiteto garante que património e modernidade vão coexistir, numa triangulação que se estende à envolvente de S. Lázaro, seja os edifícios e a preocupação com a escala agradável das proporções, seja com a vontade de contribuir para a “renovação urbana” da zona.

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Lá dentro, a preocupação de Eduardo Souto de Moura estava em que esta “não fosse uma biblioteca fechada, o ideal é que as pessoas estejam ali como em casa”, sem deixar de “responder às suas funções próprias de divulgação da leitura”.

Por fora, “como novo equipamento da cidade”, a vontade é que a Biblioteca Pública “promova alterações, hábitos, que faça aparecer livrarias, mais cafés, galerias”, perseguindo aquela que o arquitetura defende ser a sua obrigação: "promover novas funções, mudar a cidade e a estratégia”.

As pessoas vão lembrar este como um tempo em que valeu a pena apostar na cultura.”

O fecho da biblioteca começa a 1 de abril, mas os investigadores terão um serviço de atendimento especializado garantido. Durante todo o tempo, os leitores poderão encontrar livros e documentos nos vários polos da Biblioteca Errante, mas também requisitá-los em regime de takeaway, medidas “pensadas numa estratégia, não apenas de diminuir o impacto para todos os utilizadores mais frequentes, mas também de começar a olhar a biblioteca e o livro de uma maneira diferente”, sublinha o presidente da Câmara do Porto.

Durante o decorrer das obras, o acervo que não for transferido para os polos da Biblioteca Errante ou para a Biblioteca Almeida Garrett, estará, em regime de custódia, à guarda de empresas especializadas, que irão garantir a disponibilidade para requisição. Toda a informação pode ser consultada, todo o tempo, na página própria criada para o efeito.

Ainda que o futuro da Biblioteca Pública Municipal pareça longínquo, e sabendo como “encerrar uma biblioteca é duro”, apesar de “indispensável”, Rui Moreira acredita que “as pessoas vão lembrar este como um tempo em que valeu a pena apostar na cultura”. No dia em que voltarem a entrar nos livros, como em casa.