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Batalha Centro de Cinema abre a 9 de dezembro e já revelou a programação

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O Batalha já tem data marcada para a inauguração. O restaurado e modernizado edifício vai reabrir a 9 de dezembro, anunciou, esta quarta-feira, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, durante a conferência de imprensa em que ficámos também a conhecer a programação artística do Batalha Centro de Cinema, apresentada pelo diretor artístico, Guilherme Blanc.

9 de dezembro de 2022. Eis a data em que a histórica sala de cinema da praça que lhe dá nome vai ser devolvida aos portuenses e à sua função original. Após a reabertura do Mercado do Bolhão, a cidade do Porto vê agora ser-lhe restituído outro dos seus espaços mais icónicos, salientou o presidente da Câmara Municipal. Tal como o Bolhão, “o Batalha integra a memória coletiva desta cidade e é, sem dúvida, um elemento identitário e agregador do Porto”, explicou, esta quarta-feira, Rui Moreira, durante a conferência de imprensa de apresentação da nova programação [de dezembro a julho] do Batalha Centro de Cinema.

Foi, aliás, nesse sentido que, “consciente da importância cultural e simbólica do Batalha, o Município do Porto trabalhou nesta solução [de restauro e modernização] durante os últimos cinco anos, enfrentando inúmeras dificuldades políticas, burocráticas e financeiras”, acrescentou.

Para além das dificuldades com que o projeto se confrontou ao longo dos últimos anos, “há a realçar a descoberta e restauro dos frescos que Júlio Pomar gravou nas paredes interiores do edifício, em meados da década de 1940. O artista plástico e oposicionista da ditadura pintou no cinema uns magníficos murais alusivos à festa de São João”, que agora estão de novo acessíveis ao público. Devido a esta intervenção inesperada, o processo de recuperação do Batalha comportou um investimento de, aproximadamente, 5,17 milhões de euros por parte da autarquia, valor acima dos quatro milhões inicialmente orçamentados.

Com a abertura da nova casa do cinema do Porto, “estamos a recolocar o Batalha no centro das vivências da cidade do Porto, das suas gentes e do seu setor do cinema”, promovendo o “diálogo transdisciplinar e de abertura a diferentes tendências e conceitos artísticos”, e estimulando uma lógica “não só de fruição mas também de descoberta, debate e problematização”, assegurou Rui Moreira. Não se trata, por isso, “um gesto de mero diletantismo nostálgico”.

Primeira temporada arranca com retrospetiva de Claire Denis

Dando a conhecer os principais eixos programáticos do projeto e da sua primeira temporada de atividade, Guilherme Blanc, diretor artístico da instituição, anunciou a intenção de apresentar “programas que alarguem a compreensão sobre o cinema, sobre a sua heterogeneidade formal e cultural”, propondo ainda “formas de conforto, de cuidado, de relação” que reflitam a diversidade complexa dos públicos e uma interpretação do tempo e do lugar que o Batalha Centro de Cinema vem ocupar.

Com a missão de promover o conhecimento e a fruição cultural, através do cinema e da imagem em movimento, o Batalha inclui no seu programa ciclos temáticos, retrospetivas e focos em práticas contemporâneas, bem como a ligação a outras artes. Estimular a cinefilia e cultura cinematográfica, através de projetos educativos, editoriais, formativos e de debate, está no centro da atividade do Centro de Cinema.

Guilherme Blanc começou por apresentar os ciclos temáticos que, dedicados a temas específicos ou cruzando géneros diversos, vão colocar em debate questões sociais, culturais e políticas prementes. O ciclo Políticas do Sci-Fi abre o programa de cinema a 9 de dezembro, data da inauguração, com The Day the Earth Stood Still, de Robert Wise, acompanhado do filme The New Sun, da artista polaca Agnieszka Polska. Até julho vão ser também apresentados os ciclos Domesticidade(s), El Futuro Ya No Está Aquí e Contra-Fluxos.

Com Focos e Retrospetivas, a programação artística vai dar a conhecer ciclos de filmografia, completa ou essencial, de cineastas e artistas nacionais e internacionais, deste e de outros tempos. O primeiro ciclo é dedicado a Claire Denis, um dos nomes mais influentes, estimulantes e ecléticos do cinema contemporâneo, naquela que será a mais completa retrospetiva da realizadora concebida em Portugal. Este eixo fundamental da programação – que espelha uma visão de diversidade formal, temática, geracional e geográfica – apresenta ainda retrospetivas de Melvin Van Peebles, André Gil Mata, Zacharias Kunuk, Luísa Homem, Joanna Hogg, Lorenza Mazzetti, Basil da Cunha, Annemarie Jacir e Mai Zetterling, e Focos de Artista, dedicados a Agnieszka Polska, Riar Rizaldi e Fatima Al Qadiri.

O cinema português ocupa um lugar central na programação do Batalha. De facto, quer em Seleção Nacional, exibições semanais com o intuito de sondar e indagar o património fílmico nacional, quer em Luas Novas, que, todos os meses, vai destacar novos nomes do cinema produzido em Portugal, a produção nacional vai assumir um papel que representará, de acordo com Guilherme Blanc, cerca de um terço das sessões programadas pelo Centro de Cinema.

Nas Matinés do Cineclube, o Batalha retoma a ligação histórica com o Cineclube do Porto, em sessões quinzenais que revisitam os momentos mais marcantes da história da instituição.

Focado em experiências coletivas de realização e produção de cinema, Coletivos apresenta o trabalho do coletivo indígena COUSIN; de Yugantar Film Collective, o primeiro coletivo de cinema indiano fundado e constituído exclusivamente por mulheres; e Zanzibar, coletivo de cinema experimental formado por jovens realizadores franceses, na altura do Maio de 68.

Especiais! vai apresentar estreias e projetos comissariados

Por ocasião de celebrações e efemérides particularmente relevantes, Especiais! vai assinalar datas relevantes e apresentar estreias e projetos comissariados. Incluem-se aqui programas como Towards the Last Movies, composto pelos últimos filmes vistos por personalidades do século XX antes das suas mortes, ou Oásis, dedicado à experiência do verão e às suas poéticas com cinema, palestras, performances, música ao vivo e DJ sets dentro e fora de portas.

Também neste contexto serão promovidos, em junho, os Novos Encontros do Cinema Português, coorganizados com a Gulbenkian e o Cineclube do Porto, com o objetivo de criar um espaço de debate independente dedicado à indústria cinematográfica, à semelhança da Semana de Estudos sobre o Novo Cinema Português, que teve lugar no Batalha em 1967, evento fulcral para a definição do que viriam a ser as políticas de financiamento da produção cinematográfica no nosso país. Em dezembro de 2023, altura em que o Centro de Cinema assinalar um ano de atividade, Especiais! vai apresentar, em estreia, Os Amigos do Gaspar: Uma Reunião na Cidade. Resultado de um trabalho em curso de pesquisa e restauro de marionetas, o projeto vai revisitar o programa infantil que marcou o imaginário de uma geração, através de um novo filme musical realizado por Duarte Coimbra.

Ao longo do ano, o Batalha vai ainda abrir portas aos vários festivais de cinema da cidade, muitos dos quais se fizeram representar na sessão desta quarta-feira, tornando-se o ponto de encontro entre públicos e profissionais, para além de acolher também as Sessões Filmaporto, dedicadas a filmes de autores e produtores da cidade, cuja seleção é feita através de uma open call permanente.

Para além de dar a conhecer projetos expositivos e instalativos de artistas do nosso tempo (de Tabita Rezaire a Pedro Neves Marques), o Batalha Centro de Cinema vai acolher também palestras, conversas e debates, associados ou independentes dos programas de cinema — o destaque vai, desde já, para A Minha História de Cinema, um ciclo de palestras e filmes de Trinh T. Minh-ha (Vietname), Manthia Diawara (Mali) ou ainda Byung-Chul Han (Coreia do Sul), que, anunciou Guilherme Blanc, fará no Batalha uma das primeiras apresentações do filme que realizou.

A estreia em filme-concerto de Os Faroleiros, restaurado no âmbito do FILMar e com uma nova composição sonora — encomendada a Daniel Moreira e interpretada ao vivo pelo quarteto de cordas The Arditti Quartet —, e as performances de James Richards e Billy Bultheel, Jonathas de Andrade e Rita Natálio são algumas das propostas da secção Música e Performance. O encontro, a partilha e o lazer fora da sala de cinema são promovidos em Cinema ao Redor, através do convite à participação em grupos (de cinefilia, leitura e para jovens), cursos e oficinas (para adultos e crianças) e de atividades como as Visitas Guiadas e o Batalha Quiz. Destaque ainda para o projeto semestral Vizinhos, cuja primeira edição vai ser desenvolvida em colaboração com vizinhos do Batalha, com raízes no Bangladesh, e vai resultar num ciclo de filmes selecionados em conjunto com a equipa artística do Centro de Cinema.

O programa Escolas ocupa um lugar central no Batalha. Propondo uma relação contínua e permanente com a comunidade escolar, inclui uma programação de cinema, gratuita para escolas do Porto, com propostas do pré-escolar ao ensino secundário divididas em quatro temáticas: Ecologia, Amizade, Identidade e Diáspora. Integra ainda um grupo de trabalho contínuo com estudantes do 1.º ciclo de uma escola e um grupo de apreciação fílmica para professores. Escolas abrange ainda o ensino superior em Big Show, um momento de encontro anual de estudantes dedicado à exibição de filmes finalistas de licenciatura. As sessões para Famílias, pensadas a partir do programa geral, são dirigidas, simultaneamente, a adultos e crianças, desafiando a construir uma relação pessoal com o cinema em toda a sua diversidade.

O diretor artístico do Batalha anunciou também o arranque de Escrita, um projeto editorial devotado ao pensamento cinematográfico, que será responsável pela publicação de edições próprias — com contribuições literárias ou críticas de autorias externas — e a encomenda, a um grupo de autores convidados, de novos textos críticos, disponibilizados em folhas de sala colecionáveis. As primeiras grandes novidades dizem respeito à edição de uma coletânea de contos de ficção científica e fabulação especulativa (associada ao ciclo Políticas do Sci-Fi), e edições focadas na obra de dois realizadores portugueses: João Salaviza e André Gil Mata.

O programa completo para os meses de dezembro e janeiro, bem como uma antevisão do que se pode esperar da primeira temporada, já estão disponíveis no website e nas restantes plataformas de comunicação do Batalha, lançadas esta quarta-feira.

Uma complexa intervenção com cunho de Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez

A empreitada no histórico edifício, sob gestão da empresa municipal GO Porto, teve início em novembro de 2019. Com assinatura do Atelier 15 (dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez), a intervenção visou a reformulação e remodelação deste espaço cultural com uma filosofia de reposição das condições originais, mas com trabalhos profundos ao nível da estrutura, da reabilitação das superfícies e das coberturas, assim como a instalação de novos equipamentos. Para além de duas salas de projeção preparadas para a exibição de formatos digitais e analógicos (a Sala 1 tem 299 lugares e a Sala 2 tem 126 lugares), o Batalha Centro de Cinema integrará uma sala, com cerca de 40 metros quadrados (Sala-Filme), dedicada à instalação de filmes e uma biblioteca dedicada à Sétima Arte.

O Batalha foi arrendado pela Câmara Municipal do Porto por um período de 25 anos à família Neves Real, proprietária do edifício, que, apesar de todas as dificuldades, o manteve sempre em sua posse. Após a abertura das bilheteiras, numa primeira fase, a 17 de novembro, o Batalha vai dar as boas-vindas aos portuenses a 9 de dezembro, mais de uma década após o seu encerramento, para retomar a sua função cultural centrada na Sétima Arte.