Cultura

Bailando entre a casa e o mundo, evocam-se 100 anos do desaparecimento de Aurélia de Souza

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Em maio serão 100 anos desde o desaparecimento de uma das maiores da pintura nacional. Durante o próximo ano, com uma programação que vai da arte à ciência, Porto, Matosinhos, Museu Nacional Soares dos Reis, U.Porto, Universidade Católica Portuguesa-Porto e Universidade Nova de Lisboa unem-se na Evocação do 1.º Centenário da Morte de Aurélia de Souza.

Evocar. Tornar presente por meio de recordação, imaginação. De abril de 2022 a junho de 2023, Aurélia de Souza estará ainda mais presente na cidade. A artista maior vai ser evocada pelas conversas, pelas exposições, pelos programas educativos, mas também pela edição de um catálogo Raisonné e pelo Congresso Internacional Mulheres Artistas em 1900.

Para o presidente da Câmara do Porto, este “vai ser um ano interessante para evocar uma pessoa diferente, num tempo também diferente”.

Depois da parceria entre Porto e Matosinhos na comemoração dos 150 anos do nascimento de Aurélia de Souza, Rui Moreira afirma ser “muito importante que esta iniciativa junte muito mais entidades e possamos, assim, recordar e homenagear aquela que foi, de facto, uma grande pintora, mas, mais do que isso, uma pessoa que, de alguma maneira, retrata o Porto na viragem do século”.

Na cerimónia de apresentação do programa evocativo dos 100 anos do desaparecimento da pintora, na manhã desta sexta-feira, no Museu Nacional Soares dos Reis, o presidente da Câmara do Porto lembrou como Aurélia de Souza “conseguiu concentrar nas suas pinturas as várias influências que foi encontrando”, assumindo uma “faceta invulgar de uma procura incessante de novas influências, o que fez com que se tornasse numa pintora absolutamente extraordinária”.

Rui Moreira destacou o programa performativo “De Corpo Presente”, que vai juntar a dança, o teatro e a poesia em torno da obra da pintora, “que funciona como uma reflexão da atualidade de Aurélia como alguém bailando entre a casa e o mundo, entre os papéis de género, entre o sagrado e a adoração pagã, popular e, tantas vezes, herética. Uma mulher cosmopolita que desafiou as convenções da época em que viveu”.

Maior entre os homens

Presente na cerimónia, a subdiretora-geral do Património Cultural para a área dos Museus, Palácios e Monumentos, Rita Jerónimo, sublinhou a relação desta evocação com a ciência e a Academia, olhando para a importância de Aurélia de Souza, cujo acervo “tem que ser respeitado e divulgado”.

O reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, não tem dúvida de que “a importância artística da pintora justifica tão ampla parceria interinstitucional” na criação de um “programa vasto, diversificado e valoroso”. “Para a Universidade do Porto é muito gratificante a evocação de Aurélia de Souza, uma figura histórica da Universidade e uma das suas principais referências estéticas”, disse. É ali que estará uma exposição com ilustrações inéditas que produziu enquanto estudante de Belas-Artes.

Isabel Braga da Cruz, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, referiu a pintora como “um dos maiores vultos da cultura portuguesa” e “a primeira a ser considerada como igual entre os congéneres masculinos”. Isabel Braga da Cruz sublinhou a importância do catálogo a lançar em março de 2023 para “dar a conhecer a forma singular como [Aurélia de Souza] se apropriou das técnicas e dos materiais para se exprimir”.

Luísa Salgueiro destacou “uma comemoração extraordinária de alguém também extraordinário” com a convicção de que “celebrar Aurélia de Souza é evidenciarmos o que de melhor temos”. A presidente da Câmara de Matosinhos fez referência ao importante papel de Aurélia de Souza na afirmação da mulher e assumiu a necessidade de levar o conhecimento sobre a obra da pintora “a públicos que habitualmente não se ligam a estas temáticas”. “Não teremos capacidade de construir um bom futuro se não soubermos respeitar o passado, e divulgá-lo”, acrescentou.

Também o diretor do Museu Nacional Soares dos Reis, António Ponte, ressalvou o “esforço conjunto” para agregar “esforços e vontades de todas as entidades presentes” no assinalar da “morte desta artista maior da história da arte portuguesa”.

O ponto de partida para a evocação do centenário da morte de Aurélia de Souza é a exposição “METAMORFOSES: Imanência Vegetal, Mineral e Animal no Espaço Doméstico Romântico”, que a Extensão do Romantismo do Museu da Cidade recebe já a partir de abril e onde vai ser possível encontrar o famoso autorretrato “Santo António”.