As mãos e os frutos de Eugénio

A sessão de
sábado passado de "Um Objeto e seus discursos por semana" evocou o ciclo de
canções "As Mãos e os frutos" que, em 1959, Fernando Lopes-Graça criou a partir
de poemas do livro homónimo de Eugénio de Andrade editado em 1948 e que a
biografia do poeta consagrou como seu livro inaugural.

Não sendo
propriamente da mesma geração (o primeiro nasceu em 1906 e o segundo quase 17
anos depois, em 1923), as duas personalidades vão entretecer um diálogo que
atravessa toda a segunda metade do século XX e que é para nós visível (audível)
na sua obra, e agora também na correspondência que ambos estabeleceram e
cultivaram desde sempre.

Os meses que
antecederam e sucederam a estreia mundial do ciclo a 20 de dezembro de 1959, no
Ateneu Comercial do Porto (com o cantor Fernando Serafim, na voz, e o próprio
Lopes-Graça, ao piano), foram tempos de intensa troca de ideias, sugestões,
dúvidas e certezas, só apaziguados com a edição em disco, um ano depois, da
obra, conseguida graças ao arrojo e dedicação de um então jovem Arnaldo Trindade,
que herdara da família a etiqueta Orfeu, com sede no Porto, e por onde
justamente passaram algumas das vozes fundadoras da nossa poesia contemporânea
(Régio, Alberto de Serpa e, desde logo, Eugénio de Andrade).

Foi à volta
de tudo isto que se desenrolarou a conversa (que foi também canto) do dia 13 de
junho, na Biblioteca Pública Municipal do Porto. Os convidados da sessão foram
o Professor Arnaldo Saraiva e a cantora Ana Maria Pinto, acompanhada ao piano
por Pedro Costa. 

Desta vez o
ciclo "Um Objeto e seus discursos por semana" integrou-se num programa mais
vasto que assinalou os 10 anos da morte de Eugénio de Andrade (13 de junho de
2005) e 20 de Fernando Lopes-Graça (27 de novembro de 1994) e integrou o
espetáculo "Aquela nuvem e outras" (às 16:30 horas, pelo Coro Juvenil do
Conservatório de Música do Porto) e a inauguração da exposição Fernando
Lopes-Graça e Eugénio de Andrade: o diálogo entre a música e a poesia (às 17:30
horas, com a colaboração do Museu da Música Portuguesa, de Cascais).

Fotos: DR