Ambiente

“As estrelas-do-mar apareceram mortas por causa do lixo?”. Não só, mas muito por isso também.

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1.200 beatas em 60 minutos numa única praia. A descoberta deixou os jovens, que, ao longo de todo o dia de ontem, saíram das salas de aula e ergueram as mangas para ajudar a uma “Praia sem Plásticos”, surpresos. Mas decididos a não esquecer nenhum milímetro quadrado sem vistoria. Em pouco tempo, entre beatas, plásticos, pedaços de lenços ou redes de pesca, retiraram das praias do Porto cerca de 115 quilos de resíduos.

O trabalho é mais minucioso do que podia parecer porque, afinal, há mais na praia que não lhe pertence do que se poderia pensar. Em pouco tempo, os sacos – amarelos, azuis e pretos, consoante o resíduo encontrado – começam a ficar cheios e os alunos ficam com um sentimento agridoce: pela quantidade de lixo que as pessoas deixam nas praias, mas, por outro lado, pelo ato que assumiram de deixar o espaço público mais limpo.

Esta foi a segunda sessão da iniciativa promovida pelo Município do Porto, em articulação com a Águas e Energia do Porto, a Porto Ambiente, o Regimento de Sapadores Bombeiros e a Polícia Municipal e que faz parte de um plano de educação-ação para a sustentabilidade, desenvolvido com as Eco-Escolas, ao longo do ano.

Na primeira sessão, entre a Praia do Carneiro e o Castelo do Queijo, a ação dos jovens permitiu retirar, em apenas uma hora, quase 70 quilos de resíduos. Plástico foram cerca de 35 quilos.

Reforçando a importância de consciencializar os alunos “para uma problemática que é global”, o vice-presidente da Câmara do Porto afirma ter esperança de que, ao chegar aos mais novos, se mude atitudes, também nos mais velhos, para que “tenhamos cada vez mais cuidado com a utilização, por exemplo, do plástico de uso único” e para que os fumadores “tenham cuidado com o que fazem com as beatas porque elas não desaparecem por magia”.

Filipe Araújo acredita que “os jovens têm sido sempre os grandes portadores da mensagem da sustentabilidade”, sendo eles que “nos estão a influenciar em casa a mudarmos comportamentos”.

Apesar disso, o também responsável pelas áreas do Ambiente e da Transição Climática no Município do Porto defende que “não podemos atribuir apenas aos jovens” a responsabilidade de agir sobre “a problemática e sobre as transições que temos que fazer”.

“Precisamos que essas transições sejam rápidas e não podemos estar à espera de gerações para que elas aconteçam”, sublinha Filipe Araújo.

No final, sem vontade de ir embora enquanto não viam todo o trabalho feito, os alunos tinham, ainda (ou cada vez mais), questões para o vice-presidente: as redes de pesca deixadas para trás são um problema? As estrelas-do-mar apareceram mortas por causa do lixo?

Limpar em terra para ir ao mar em segurança

Desta vez, os cerca de 400 alunos, entre o ensino básico e secundário, tiveram uma colaboração especial da Marinha Portuguesa e da Autoridade Marítima Nacional. “A consciencialização é algo que tem de começar desde que eles são jovens”, reforça o comandante Silva Santos, adjunto da Capitania do Porto de Leixões.

Os navios da Marinha só atracam no Porto na próxima semana, mas, para ir ao mar, há que deixar a praia limpa. Para o representante da Marinha Portuguesa, a necessidade de incluir os mais novos “neste tipo de atividade, que é de extrema importância”, está na certeza de que “será esta população a solução para o problema e, também, quem irá passar este conhecimento para as futuras gerações”.

Em dois dias, a iniciativa “Praia sem Plásticos” envolveu cerca de um milhar de jovens de 20 Eco-Escolas da cidade. Em breve, estas “brigadas” de limpeza e consciencialização vão voltar atenções para a sustentabilidade e manutenção dos rios e ribeiras.