Cultura

Arranque da Porto Capital Europeia da Cultura foi há 20 anos

  • Isabel Moreira da Silva

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Filipa Brito

A inauguração oficial da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura sucedeu há precisamente 20 anos, a 13 de janeiro de 2001. O palco escolhido para a cerimónia foi o Coliseu do Porto, onde na primeira fila assistiram ao concerto inaugural, sob a batuta do maestro Marc Tardue, personalidades como o então Presidente da República, Jorge Sampaio, e a Rainha Beatriz da Holanda.

A cidade engalanou-se para aquele momento. Pela primeira vez, ocupava os holofotes europeus com honrarias de protagonista não apenas durante um dia, mas ao longo de todo um ano em que viria a afirmar-se na cena cultural europeia.

No arquivo da RTP é possível visualizar o prelúdio dessa cerimónia, que teve a particularidade de registar a chegada da maior parte dos convidados ao n.º 137 da Rua de Passos Manuel em autocarros da STCP. Uma decisão simbólica ajustada a um dos principais objetivos do programa: a democratização da cultura na cidade.

A curta-metragem de João Botelho "Cenas do Porto", acompanhada da peça musical "Mãos na Pedra, Olhos no Céu", do pianista Mário Laginha, interpretada pela Orquestra Nacional do Porto, dava o mote para um espetáculo que incluiu récitas de Ponchielli e Tchaikovsky, dirigidas pelo maestro norte-americano que acompanhou aquela formação entre 1999 e 2008.

Horas antes, tinha sido inaugurada a primeira exposição associada à Porto 2001, no Museu de Serralves. "In the Rough" apresentava obras cedidas pelo Museu de Roterdão, cidade com quem o Porto dividiu, naquele ano, o título de Capital Europeia da Cultura.

Há um antes e um depois da Porto 2001. O embrião de uma cidade cosmopolita, culturalmente interventiva e diferenciadora advém dela. “O grande impacto que a Porto 2001 teve foi na transformação dos públicos e no seu cruzamento. Esse é de facto o seu grande legado”, sublinhou recentemente Rui Moreira, na sessão pública da apresentação da candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura em 2027, em que manifestou o seu apoio.

“Quando hoje olhamos para a cidade do Porto, em que a cultura é absolutamente importante, como ar que respiramos, é bom não esquecermos que esse mérito – estou à vontade, porque não é seguramente meu – veio da experimentação que foi feita em 2001. Fomos capazes de criar uma procura diferenciada e hoje insaciável”, frisou na mesma ocasião o presidente da Câmara do Porto, constatando que antes da Porto 2001, “a cultura na cidade era de elite”.

Porque “nem tudo foi um mar de rosas”, a verdade é que a Capital Europeia da Cultura “até gerou grandes controvérsias políticas”, recorda o autarca. Desde logo, devido às grandes obras públicas que decorreram na cidade em simultâneo e às derrapagens de custos, como a que sucedeu na construção da Casa da Música, desvio orçamental que, considera Rui Moreira, foi excessivamente criticado pelo poder central.

“Provavelmente, [Jorge Sampaio] nunca teria dito o que disse se tivesse resvalado em Lisboa. O Porto também foi vítima desse discurso”, analisa.

Num encontro internacional que há cerca de dois anos reuniu no Porto vários agentes culturais, a ex-vereadora da Cultura da Câmara do Porto, Manuela Melo, à data da Porto 2001 naquelas funções, refletiu que após uma política cultural que germinou neste período, durante 12 anos seguintes a cidade fez uma "longa travessia no deserto, com a rejeição total da cultura como fator de desenvolvimento".

Um dos programadores da Porto 2001 foi Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da Cultura escolhido por Rui Moreira para o seu Executivo Municipal, mas que faleceu em novembro de 2015, a meio do primeiro mandato do autarca.

Muito por causa da sua intervenção no projeto, “o cidadão ganhou autoestima e passou, ele próprio, a ser o curador das suas ideias, a ser o ator de transformação da sua cidade”, afiança Rui Moreira, que adotou essa mesma matriz como base do projeto cultural que definiu com Paulo Cunha e Silva para o Porto.