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Alunos com nota máxima em formação cívica e tolerância numa aula que seria impossível sem democracia

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Com 50 anos de história em Portugal, os valores do regime democrático continuam a viver várias formas de ameaças. O combate, acreditam Rui Moreira e Francisco Assis, deverá ser feito com uma melhor formação cívica e uma atitude de maior tolerância. O presidente da Câmara do Porto e o quadro do Partido Socialista deram o que só depois do 25 de Abril se tornou possível: uma "Aula da Democracia" a cinco centenas de alunos do 12.º ano, a próxima geração de novos eleitores.

Da teoria de há 2.500 anos, na Grécia Antiga, à prática da censura antes do 25 de Abril de 1974, a disciplina de Democracia apresentou, na manhã desta quarta-feira, no auditório do Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, um programa de estudo complexo.

"A democracia é difícil porque exige adesão permanente. Nas ditaduras é mais fácil porque basta as pessoas estarem caladas", considera Francisco Assis.

Vivíamos no modelo de estupidificação da sociedade, mais do que numa ditadura."

E Rui Moreira acrescenta que, além de Portugal ser, na altura, "um país a preto e branco", "vivíamos no modelo de estupidificação da sociedade, mais do que numa ditadura. Acreditava-se que se a sociedade fosse mais estúpida se comportaria melhor. Daí haver, muito poucas pessoas no ensino superior e o que nós herdámos foi a iliteracia".

Ambos reforçaram o valor da liberdade de expressar opiniões e, dentro dela, da verdade, do “compromisso ético", para que a democracia se mantenha forte. "Se começamos a entrar no processo de tentar ludibriar quem ouve, a democracia entra, imediatamente, em crise", alerta Francisco Assis.

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E porque a democracia se espelha em todos os setores da vida, como ficam, hoje, questões como, por exemplo, o combate às alterações climáticas quando não há lugar à proibição de comportamentos como o consumo de carne ou a compra de automóveis?

Rui Moreira sublinha que, enquanto autarca, pode "tomar medidas como a produção de eletricidade, a partir de fontes renováveis, ou a oferta de mais transporte público", mas que "as democracias não são propriamente eficientes na alteração dos hábitos de consumo" das pessoas, e que "queremos sempre que o custo seja pago pelo vizinho". E, quando "estamos em risco de uma das maiores democracias do mundo [os Estados Unidos] cair nas mãos de negacionistas", as respostas escasseiam.

Temos uma geração perfeitamente permeável aos discursos extremistas, assente em falsidades."

Também por isso, Francisco Assis alerta para o perigo de se cair "numa ditadura pelas melhores razões" e que tal pode ser evitado, recuperando daquilo que considera "um falhanço nacional": a falta formação cívica. "Temos uma geração perfeitamente permeável aos discursos extremistas, assente em falsidades", lamenta.

E deixa a certeza: "não há melhor regime do que a democracia, mas tem que ser defendido. Nós não nascemos democratas, fazemo-nos democratas". O aplauso dos alunos mostra a concordância desta geração.

Por seu lado, e em complemento, Rui Moreira reforçou que "a democracia só subsiste com a tolerância" e com a "capacidade de combater a mentira". "As democracias morrem quando as pessoas que querem participar são excluídas porque têm visões diferentes", afirma o autarca.

"Sejam capazes de discutir, sejam tolerantes", apelou, para novo aplauso da plateia de futuros agentes ativos da vida política do país.

Além desta "Aula da Democracia", o Dia da Democracia, organizado pela Câmara do Porto e pela SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, promoveu a participação dos jovens com quizzes sobre política e, ainda, um debate entre juventudes partidárias.