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Alerta é lançado do Porto para o mundo: mitigação das alterações climáticas exige ação a todos e agora

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Começa no Porto um novo movimento de resposta às alterações climáticas que parte de um princípio: todos somos chamados a mitigar os efeitos de um problema global. É esta a pedra angular do Protocolo do Porto e foi também a nota de abertura, hoje de manhã, da Climate Change Leadership Porto Summit 2018, a decorrer ao longo do dia. De tarde estará presente na cimeira internacional o ex-presidente dos EUA e Nobel da Paz Barack Obama.

Coube ao presidente da Câmara do Porto abrir o evento, no Coliseu Porto Ageas. Rui Moreira apresentou a emergência de se debater e agir sobre um tema "há muito na agenda", mas no qual pouco se avançou. Este encontro, que coloca a cidade na liderança de uma mudança global, é a reação necessária: "Estamos no Porto para debater os problemas que vão para lá das nossas fronteiras", salientou o autarca. Nesta consciência local e mundial se forma o Protocolo do Porto que hoje é assinado.

Mostrar que "a contribuição de cada pessoa é vital" na redução das emissões de CO2 e na mitigação dos efeitos das alterações climáticas é o primeiro objetivo desta cimeira, salientou a seguir Adrian Bridge, diretor geral da The Fladgate Partnership. O também responsável pela empresa proprietária das caves de Vinho do Porto Taylor's, Fonseca, Croft e Krohn foi perentório: "a ideia de que um grupo de cientistas irá resolver o problema não vai acontecer". Perante factos, "o esforço individual é a chave".

Nesse sentido, criar uma plataforma para "partilhar o conhecimento sobre esta matéria" é o segundo objetivo da iniciativa do Porto. Como sustentou Adrian Bridge, é necessário reunir a informação que se encontra dispersa, o que invalida uma análise rigorosa sobre os avanços e desafios já identificados.

Como resumiu depois, "não se trata de dizer que é necessário agir, isso está já para além de qualquer controvérsia. Trata-se, sim, de avançar com as ideias, gerar as dinâmicas necessárias". 

A indústria do vinho, enquanto primeira dinamizadora da cimeira, surge a dar o exemplo, mas o processo "está aberto" a outros setores e áreas do conhecimento: "Numa plataforma de pensamento para a ação concreta importa a contribuição e participação de todos", assinalou o responsável.

Urge o tempo de agir

Um dos oradores mais aguardados da manhã, o professor Mohan Munasinghe, Nobel da Paz em 2007, felicitou por isso a cidade do Porto e a indústria vinícola pelo envolvimento "neste tópico tão urgente no contexto global".

Mitigar, adaptar, reagir, participar - foram estes os verbos maiores de uma intervenção em que o Nobel da Paz apelou à união de outras indústrias no sentido de se "avançar para soluções mais concretas". É que já "não há desculpas. E não podemos esperar pelo poder político. Compete-nos trabalhar para ajustarmos a sociedade às mudanças climáticas, mitigando os danos sociais e económicos".

"O tempo de agir urge", alertou Mohan Munasinghe. "Três anos após o Acordo de Paris, o que se fez não é suficiente. Por isso fico contente por estar associado ao Protocolo do Porto", disse, lembrando depois que as alterações climáticas levantam inúmeros problemas, nomeadamente a pobreza e o crescente aumento de populações refugiadas. Integrar estes e outros dramas originados pelo aquecimento global e pela escassez de recursos "é difícil, mas não é impossível". Tem é de ser rapidamente, até porque "ainda não vimos o verdadeiro impacto das alterações climáticas".

Sítios Património Mundial ameaçados

Já a ex-diretora geral da UNESCO Irina Bokova alertou que as alterações climáticas representam uma das maiores ameaças para os locais classificados como Património Mundial, defendendo por isso a importância de se cumprir o Acordo de Paris.

"Veneza, a Grande Barreira de Coral e Yellowstone são exemplos icónicos de locais já afetados em grande escala pelas alterações climáticas", afirmou Irina Bokova, citada pela Lusa.

Para a responsável, as alterações climáticas representam a maior ameaça para os espaços classificados como Património Mundial e não há forma de medir o impacto que o clima pode ter no futuro.

Alertou ainda que a cultura, história comum e tradições estão "em risco de desaparecer", defendendo por isso a necessidade de implementar o Acordo de Paris, que visa minimizar as consequências do aquecimento global.