Cultura

Agentes de todo o mundo ficam a conhecer a nova cultura à moda do Porto

  • Notícia

    Notícia

No âmbito do encontro plenário do IETM - Rede Internacional de Artes Performativas Contemporâneas, que decorre na cidade até dia 29, Rui Moreira aceitou esta tarde o desafio de refletir sobre o "Marketing Urbano e Cultural no Porto" perante uma plateia maioritariamente internacional, reunida no Mosteiro de São Bento da Vitória. O Porto é hoje um case study nesta matéria e aos participantes deste fórum interessou perceber como é que se este caminho se fez.

Foi um debate profícuo aquele que juntou como oradores o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, Joana Gomes Cardoso, presidente do Conselho de Administração da EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural do Município de Lisboa), e recebeu a moderação de Manuela de Melo, antiga vereadora da Câmara do Porto que esteve na génese da programação da Capital Europeia da Cultura 2001.  

Pretendia-se da conversa explicar à plateia porque é que a estratégia municipal, nos últimos anos, apostou na cultura como um pilar essencial das políticas públicas. Numa época em que a cidade atravessa uma grande transformação do ponto de vista económico - há mais turismo, o investimento intensificou-se e o volume de negócios atingiu níveis nunca antes vistos - houve também um setor cultural que soube acompanhar este crescimento e florescer.

Na verdade, após uma política cultural que germinou no período da Porto 2001, Manuela de Melo diagnosticou que, durante 12 anos, a cidade fez uma "longa travessia no deserto, com a rejeição total da cultura como fator de desenvolvimento". Felizmente, avaliou, ultrapassado esse tempo, foi possível retomar "as sementes" deixadas pela Capital Europeia da Cultura. Neste processo, identificou Rui Moreira e o antigo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, como os principais preconizadores da mudança do pensamento estratégico para o setor.

Na sua intervenção, o presidente da Câmara do Porto salientou que a sua visão de cidade - embora partilhada com o seu antecessor no que à manutenção das boas contas diz respeito - era definitivamente outra na abordagem relativa àquilo que o Município podia fazer pela cultura. Para Rui Moreira, a cultura "é o instrumento que impulsiona a economia e coesão social" e, nessa medida, o tratamento a ser-lhe dado não mais podia ser de total alheamento e distanciamento.

Entre as principais decisões tomadas, logo no anterior mandato, devolveu-se o Teatro Municipal à cidade, colocando assim um ponto final à programação privada do Rivoli. Depois, num caso que é hoje, incontestavelmente, um dos marcos da nova política cultural, criou-se o Cultura em Expansão, programa que leva a todos os cantos da cidade, outrora proscritos, récitas, peças de teatro, concertos de música, espetáculos de dança, numa simbiose entre públicos e lugares. E, mais ainda, enunciou o autarca "reativou-se a Galeria Municipal e retomou-se uma relação institucional de proximidade com os espaços culturais da cidade", estabelecendo com eles parcerias para a promoção de atividades fundamentalmente educacionais.

Neste quadro de ebulição cultural, houve ainda outro aspeto que contribuiu para a afirmação da cidade, reconhece Rui Moreira: a criação da marca Porto.

E, embora vistas como "eternas rivais", as cidades de Porto e Lisboa partilham mais similitudes do que aquilo que se possa imaginar. Pelo menos, foi o que ficou patente das intervenções de Joana Gomes Cardoso, presidente da EGEAC, ao longo do debate. Com o presidente da Câmara do Porto, partilhou a opinião de que a cultura é um investimento que nunca pode ser menorizado, porque dele advêm proveitos inimagináveis no estímulo de "territórios considerados depressivos".

Tanto é que, desde que a EGEAC foi criada, em 1995, contribuiu definitivamente para "democratizar" a cultura na cidade de Lisboa. Em contraponto, a dirigente reconheceu que, no Porto, "o cenário foi bem diferente", até porque o percurso a norte tem encontrado obstáculos que a sul não se colocam.

Na conversa, que durante cerca de hora e meia cativou uma audiência maioritariamente constituída por agentes culturais internacionais, Rui Moreira deixou ainda como exemplos algumas ações que, no seu entender, têm contribuído para a democratização cultural do Porto e que, nessa medida, podem ser replicadas noutros locais. São o caso das conversas pós-espetáculo promovidas no Rivoli; das apresentações da temporada; do baixo custo dos preços de bilheteira; ou, ainda, a divulgação contínua da programação cultural nas novas plataformas de comunicação, designadamente site e redes sociais.