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A Porto International Design Biennale já nasceu

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O Porto vai ter a sua Bienal Internacional de Design, segundo anunciaram hoje os presidentes das Câmaras do Porto e de Matosinhos em conferência de imprensa que antecedeu o início do ED Festival, que culmina, ao final desta tarde (18,30 horas), com a entrega dos prémios europeus de design, no Rivoli. A cerimónia iniciou-se, aliás, com uma apresentação da Bienal à comunidade internacional de designers que se encontra no Porto para o evento.

A Bienal, denominada Porto International Design Biennale, que será organizada pelas duas cidades e que contará com a contribuições de numerosas instituições e personalidades, terá a primeira edição no último quadrimestre de 2019, mas até lá muitos eventos vão antecipar este grande acontecimento internacional de design que se repetirá a cada dois anos.

A comissão organizadora será presidida pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, contando ainda no seu "board" com os contributos do presidente da Câmara de Matosinhos, Eduardo Pinheiro, (vice-presidente da organização) e com Eduardo Aires, Emanuel Barbosa, José Bártolo e Maria Milano, nomes destacados do design nacional e internacional ligados à Faculdade de Belas Artes do Porto e à ESAD, em Matosinhos.

De acordo com Rui Moreira, a existência "de uma história" neste território de duas cidades atentas ao design legitima a iniciativa. Falando na conferência de imprensa, o autarca frisou que "a bienal é, no fundo, a sequência lógica e seguinte de um conjunto de acontecimentos e de envolvimentos que têm acontecido quer no Porto quer em Matosinhos, pelo menos desde 2010".

Também Eduardo Pinheiro afirmou que "Matosinhos e Porto têm muito trabalho" realizado na área do Design "antes deste anúncio", que "não é um princípio mas um meio para se conseguir um fim".

José Bártolo, comissário geral, sublinhou por seu turno a "conjugação de ideias num território que vive uma saúde política muito particular, graças ao relacionamento entre Porto e Matosinhos. Neste contexto de cooperação, acredita, "a Bienal vai produzir resultados de uma forma continuada e não como um evento ou conjunto de eventos efémeros".

A organização ficará sediada na ESAD- Idea, Associação para a Investigação em Design e Arte. O conselho consultivo conta já com nomes como os de Andrew Howard, Clarisse Castro, Fernando Rocha, Francisco Providência, Guilherme Blanc, Mariana Pestana e Demetrios Fakinos, que lidera a organização dos ED Awards, que hoje estão a ser entregues no Porto. Sérgio Afonso, professor na ESAD, será o diretor-geral da organização e José Bártolo o curador geral.

Estão já identificados locais para a realização de eventos no âmbito da Bienal, nomeadamente o Matadouro de Campanhã, a Casa do Design de Matosinhos, o Palácio dos Correios do Porto, a Casa da Arquitectura - Centro Português de Arquitectura, a Galeria Municipal do Porto, a Galeria Municipal de Matosinhos, o Mercado Municipal de Matosinhos, os Museus Municipais do Porto, o Teatro Municipal do Porto - Rivoli, o Cinema Batalha no Porto, o Museu Quinta de Santiago, o Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões e o Parque de Estacionamento Matosinhos Sul.

DA REGIÃO NORTE COM O PAÍS E COM O MUNDO

Para além de ambicionar ser um evento capaz de promover a cultura do design, a sua discussão pública e a produção de conhecimento crítico a partir de Portugal, a Bienal pretende desenvolver um trabalho continuado de investigação e divulgação do design português e internacional, potencializando a associação de recursos entre disciplinas, designers, empresas, a academia, a indústria e os diversos setores sociais. 

Segundo informaram os dois presidentes, Rui Moreira e Eduardo Pinheiro, a Bienal estará sediada no Norte de Portugal, mas terá "um horizonte de integração e intervenção vincadamente nacional e internacional". Conforme afirmou o presidente da Câmara do Porto, "os dois Municípios têm-se destacado por uma aposta consistente e contínua na qualidade do espaço urbano, na programação cultural, na valorização da arquitetura e do design, pelo que a realização de uma bienal com dimensão internacional, alicerçada nestas duas cidades, faz sentido".

Ciclos de conferências como Personal Views e Fórum do Futuro, a existência de equipamentos e instituições culturais como a Casa do Design, Casa da Arquitectura, Museu da Fundação de Serralves, Casa da Música e diversos espaços municipais de programação cultural ligados à arte contemporânea, ao teatro, dança, cinema e literatura, caracterizam o território urbano das duas cidades como um espaço diferenciado de diversidade e vitalidade cultural.

O acolhimento de importantes eventos de design que tem acontecido, nos últimos anos, com regularidade, como a AGI Open e a European Academy of Design Conference, no Porto; as exposições nacionais e internacionais de design apresentadas na Galeria Quadra e Casa do Design, em Matosinhos; as exposições da edição 2015 da Bienal Experimentadesign ou o acolhimento aos European Design Awards, a decorrer hoje, também no Porto, são exemplos da crescente importância da região composta pelos dois espaços urbanos, nos últimos anos, no âmbito do design internacional.

A relevância da vida académica, com um papel de destaque para a ESAD - Escola Superior de Artes e Design, Faculdade de Belas Artes e Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde se destaca também uma oferta não institucional, como a Porto Summer School, e a importância dos inúmeros ateliês de design e arquitetura conferem a necessária massa crítica a estas duas cidades. 

A Porto International Design Biennale procura, assim, construir uma plataforma regular de discussão e produção de conhecimento em design, de agregação e valorização profissional dos designers, de aproximação entre a academia e a indústria, de incentivo à produção e divulgação nacional e internacional do design português.

PRIMEIRA EDIÇÃO EM 2019

A primeira edição da Porto International Design Biennale terá início em setembro de 2019 sob o tema Post-Millennium Tension. Cronograma. Depois da apresentação, ainda este ano, do programa completo, terá lugar em outubro de 2018 a Conferência Internacional Young Curators Workshop, estando prevista para setembro de 2019 a Semana Inaugural da primeira Porto International Design Biennale. Em dezembro do mesmo ano terá lugar a finisage da edição 2019 e apresentação do tema para a edição 2021.

Segundo a organização, "com este tema procura-se analisar e pensar a atual configuração disciplinar do design. A reflexão considera, por um lado, a perspetiva histórica e as relações de tensão, afastamento e proximidade, entre o design contemporâneo e o modelo do projeto moderno que vigorou até ao fim do Milénio; analisar-se-ão, por outro lado, as formas e as funções do design produzido nas duas primeiras décadas do corrente século e milénio e, nessa análise, problematiza-se a eficácia social do design e as novas ligações que, a montante e a jusante, sucedem com a dimensão económica, tecnológica, cultural e ambiental".

Entre os eventos que terão lugar no âmbito da Bienal, contam-se o Programa País Convidado; o Programa Espaço Público; o Programa Escolas de Design; um Prémio Nacional de Design; o Programa Satélite Internacional; o Programa Satélite Nacional; o Young Curators; Workshop e Conferência Internacional.

Segundo o documento distribuído esta tarde aos jornalistas, "a mudança de milénio coincidiu com um quadro profundo, alargado e diversificado de mudanças estruturais e conjunturais que, em grande medida, redefiniram o mundo em que vivemos. Configurar um mundo em mudança tornou-se num desafio central ao pensamento crítico e, neste contexto, o quadro epistemológico de enquadramento do design alterou-se dando lugar a novas ideias, modelos e processos de intervenção (no campo material), de exploração (no campo relacional) e de resistência (no campo ideológico)".

Um olhar atento é focado nos designers Millennials, a chamada Geração Y, refletindo-se sobre o que pode caracterizar e diferenciar uma geração que é educada e integra-se no mercado de trabalho em circunstâncias movediças, marcadas por novos cenários geopolíticos, pelo poder da web 3.0, pela retórica política neoliberal, a crise do setor financeiro, a disseminação da cultura open source, a reconfiguração das formas de produção e a valorização da produção imaterial, do pensamento crítico e das ações coletivas. 

Ainda segundo o documento distribuído na apresentação da Bienal, "talvez nunca como nos últimos 20 anos o pensamento em design tenha estado tão focado em questões identitárias. A crise dos modelos financeiros e políticos dominantes gerou um certo trauma pós-colonial que, por sua vez, suscitou uma demanda reflexiva sobre uma identidade radical, autêntica, honesta. Alguns valores do Projeto Moderno (como a "adequação ao propósito" ou a "moralidade social") são retomados num contexto de reincidência pós-moderna, que abre campo para a releitura de propostas teóricas e a recuperação de experiências originárias das movimentações de neo-vanguarda e das contraculturas dos anos 60 e 70", conclui.