Cultura

A páginas tantas, histórias, pessoas e cidade escrevem-se nos Cadernos do Rivoli

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De um mergulho nos arquivos, por entre programas, bilhetes, cartazes ou mesmo carimbos e folhas de pagamento, surgiram as histórias que diversos autores contam nos novos Cadernos do Rivoli e que refletem a vida de uma cidade. A edição dupla especial, que celebra os 90 anos do teatro municipal, foi lançada esta quarta-feira, nos Paços do Concelho, como prova, diz-se no vídeo de apresentação, “do vazio que ocuparia a inexistência” do Rivoli.

A história que o presidente da Câmara do Porto partilhou do Rivoli, durante a cerimónia, remonta a 2013, quando o Município assumiu que “todas e quaisquer estratégias para a Cultura da cidade teriam de passar pela revitalização do Teatro”.

Nas palavras de Rui Moreira, essa convicção é herança de Manuel Pires Fernandes e da filha, Maria Assunção Borges, que, em 1932, quiseram dar à cidade “um projeto cultural que inspirasse e estimulasse, que espelhasse o Porto nas suas maiores qualidades, mas que, simultaneamente, desafiasse a cidade para a progressão e o desenvolvimento”.

Foi pelas mãos de Isabel Alves Costa, como diretora artística do teatro, que nasceram os Cadernos do Rivoli, recordou o presidente da Câmara do Porto, “ciente que estava da importância da documentação, do registo e da memória, enquanto elementos fulcrais para a definição e manutenção da identidade de um projeto artístico e de uma cidade.”.

“Um teatro agregador, desafiante, uma referência e um símbolo que confronta a cidade com ela própria, que a tem acompanhado e estimulado ao longo dos anos no seu crescimento e desenvolvimento. Tal como um teatro não tem uma razão de ser sem os artistas, acredito que o Porto não seria a mesma cidade sem o Teatro Rivoli”, afirma Rui Moreira.

Honrar a História para defender os artistas

Divididos em dois volumes, um sobre a História e um segundo dedicado aos artistas, apresentados nesta cerimónia pela reitora da Universidade Lusófona, Isabel Babo, os Cadernos do Rivoli “são agora uma chancela de edição da casa”, diz o diretor artístico do Teatro Rivoli, Tiago Guedes, que arriscou, em 2015, a entrega ao designer Nuno Coelho “de uma espécie de chave-mestra imaginária que abriria todas as portas, caixas, armários, acessos bloqueados e demais entranhas e labirintos do teatro, com o intuito de encontrar o que estava por desvelar”.

O que estava por encontrar era uma edição fac-simile do caderno n.º 5, nunca publicado, e que fez Tiago Guedes perceber que “continuar a editar este legado seria não só uma homenagem a Isabel Alves Costa, como também uma forma de preservar a memória do que fossemos fazendo”.

“Acredito que a História que temos traçado será um dia contada, mas não nos cabe a nós fazê-lo. A nós cabe-nos honrar diariamente o trabalho das nossas equipas e os milhares de companhias, artistas e profissionais do espetáculo que dão músculo ao esqueleto que imaginámos. Acompanhá-los é fazer da visão do teatro uma parte constitutiva da cidade e essa é uma das marcas do Rivoli no Porto”, defende.

Em homenagem a Maria Assunção Borges, Isabel Alves Costa e Paulo Cunha e Silva

Assumindo que esta edição dupla é dedicada a Maria Assunção Borges, Isabel Alves Costa e ao antigo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, o editor dos Cadernos do Rivoli, Tiago Bartolomeu Costa, sublinhou “como, através do seu exemplo, com um teatro herdado, um teatro reconstruído, um teatro devolvido, nos deram as bases de uma memória coletiva que desafia o presente e se oferece como responsabilidade para a condição de herdeiros passageiros que somos”.

Para Tiago Bartolomeu Costa, “esta obra é testemunho da dimensão e do porte da memória do Rivoli (…) tornando-o, ele próprio, um artista da cidade”. O editor não deixou de referir “a missão de um teatro que tem “municipal” no seu nome e se estende muito para lá das fronteiras do município, nos ensina e ensinou a pensar não no lugar da cultura na sociedade, mas que sociedade se desenha nos reflexos que a cultura nos devolve”.

“Se o Rivoli foi sempre pensado como um teatro que fosse digno do Porto, então a história que ajudou a escrever é sobre o presente, sobre como aqui chegámos e o que defendemos. Uma história sobre o que significam conceitos como popular, inclusivo, comunitário, comprometido e cúmplice. Uma história sobre como criar espaço, tempo, lugar, margem, cidade, comunidade”, concluiu Tiago Bartolomeu Costa.

As histórias de 34 autores que compõem as 834 páginas dos Cadernos do Rivoli estão, a partir de agora, à venda na bilheteira do teatro municipal.