Cultura

A páginas tantas, assim já se vai escrevendo uma nova edição da Feira do Livro do Porto

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Foram “tão importantes no momento do confinamento, companheiros tão leais e tão presentes, que nos alimentaram espiritualmente durante esse período”. Eles, os livros, estão quase prontos a sair dos caixotes e assumir uma nova tarefa: a de encher prateleiras, mas também auditórios, jardins, lagos e cada canto dos Jardins do Palácio de Cristal. Faltam dois dias para se abrirem os stands de mais uma edição da Feira do Livro do Porto, um evento que se quer, mais do que um mercado de venda, um ponto de encontro de cultura. Tudo começa esta sexta-feira, 27 de agosto, e estende-se até 12 de setembro.

Nestes dias de preparação do espaço – ou espaços - já tudo vive de uma experiência adquirida e uma fórmula vencedora. A ser pensada desde o primeiro dia após a edição de 2020, que já tinha sofrido alterações, a Feira do Livro do Porto já se adaptou às necessidades que os tempos impõem.

“Foi sempre um evento aberto, mas nas condições em que vivemos foi preciso vedar o acesso, com entradas controladas e com um número limitado de pessoas em simultâneo”, relembra Nuno Faria, coordenador de programação.

O mesmo acontece nos locais onde há palco – interiores ou exteriores – “como já se tornou habitual nas salas de espetáculo”. Este conhecimento prévio, acrescenta Nuno Faria, permitiu “que nunca puséssemos em causa a realização do evento”.

O coordenador garante que, por ali, tudo está a ser “feito na máxima segurança, mas sem perdermos o conforto que é estarmos nestes jardins, e que é o contacto com os outros, com os livreiros e com os artistas que nos oferecerão as suas criações”.

“As coisas conjugaram-se de forma a que a Feira seja um sucesso, quer de público, quer de programação, quer mesmo comercial”, afirma Nuno Faria, lembrando ainda como “é muito importante para os livreiros, para os alfarrabistas, para todas as editoras que aqui vamos ter, é muito importante este encontro com o público e é muito importante para o público o encontro com os livros”.

Das palavras aos números, este ano a Feira do Livro do Porto faz-se com a presença de 78 entidades, distribuídas por 124 pavilhões. Para lá dos livros, cerca de 150 convidados, entre autores, interlocutores, oradores, músicos e artistas, os jardins enchem-se com 145 atividades de cariz cultural.

Ao longo de 17 dias, não haverá espaço que seja esquecido por este que, mais do que um mercado, acredita Nuno Faria, “é um evento cultural, um festival literário, que tem uma abrangência disciplinar muito grande, e que reúne um conjunto de grandes escritores”.

O romantismo do mais conhecido dos nossos autores esquecidos

Este ano, a reunião faz-se em torno do “mais conhecido dos nossos autores esquecidos”, Júlio Dinis, autor do romantismo, e “tão querido da nossa cidade e da nossa literatura, da nossa história cultural”.

“Queremos pensá-lo como uma figura viva, contraditória, de uma imensa curiosidade, de uma imensa atenção relativamente aos outros, com uma obra que tem um sentido cívico, educativo, absolutamente fulgurante”, sublinha o coordenador da programação da Feira do Livro.

Nuno Faria acredita que “esta Feira vai ser muito especial para o Porto, uma cidade onde o romantismo foi muito importante e ainda com muitos sinais exteriores e culturais da marca que a época romântica aqui imprimiu”.

Uma dessas marcas é mostrada ao público, em sintonia, aquando da abertura da Feira do Livro. Contíguo aos Jardins do Palácio de Cristal, o antigo Museu do Romântico assume agora o papel de Extensão do Romantismo do Museu da Cidade.

Ali estará aquela que Nuno Faria considera a “obra-prima deste evento, que é o herbário que Júlio Dinis compôs com espécimes vegetais da ilha da Madeira, quando se tentava tratar da tuberculose de que veio a morrer” e que constitui a exposição “Quando a Terra Voltar a Brilhar Verde para Ti”.

“Será um pouco a peça em torno da qual toda a Feira circula”, e que lhe atribui o tema central -Herborizar, ou a arte de compor herbários, de recolher espécimes vegetais e de os fixar em pranchas para memória futura – “uma arte bela, mas estranha ao mesmo tempo”.

“Esperamos com muito empolgamento que, entre concertos, percursos na feira, atividades infantojuvenis, atividades para bebés, os encontros literários, as conversas com os escritores, e, claro, os vários stands, os livros do dia, nós possamos reencontrar-nos com os livros, que foram tão importantes no momento do confinamento, foram companheiros tão leais e tão presentes, que nos alimentarem espiritualmente durante este período”, afirma Nuno Faria, para quem “está tudo conjugado para ser um momento especial, como todos os anos é”.