Cultura

À descoberta do imaginário poético (e não só) de Eugénio de Andrade

  • Paulo Alexandre Neves

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Há palavras, fotografias, postais, poemas manuscritos e datilografados, livros e objetos pessoais, como uma máquina de escrever e uma mala, provenientes do núcleo de coleções do Museu da Cidade e da Biblioteca Pública Municipal do Porto. Esta quinta-feira, Eugénio de Andrade faria 100 anos. Conseguiu reunir, ao final da tarde, no foyer da Biblioteca Municipal Almeida Garrett muitos amigos e admiradores. Para assinalar a data foi inaugurada a exposição "Eugénio de Andrade: A Arte dos Versos", com a presença do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, e dos curadores Jorge Sobrado, diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, e Rita Roque.

A exposição apresenta parte do espólio editorial de Eugénio de Andrade. São cerca de 200 originais. Há muitas palavras, mas também testemunhos das suas amizades, a sua relação com o espaço urbano da cidade (do Passeio Alegre a S. Lázaro). "Era um homem que construía poesia, construindo, desfazendo", assinalou Rui Moreira, garantindo que "o poeta não está esquecido e a cidade demonstra-o todos os dias".

O autarca portuense relembrou, a propósito, a cedência do espólio do poeta, com a assinatura do contrato de depósito entre a Câmara e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), permitindo o estudo e investigação na Casa dos Livros. E deixou um conselho: "Comprem e leiam Eugénio de Andrade. Isto não acaba com o centenário. Precisamos de continuar a pensar, a ler, a meditar, a encantar-nos com ele".

Ministro elogia ação cultural do Município do Porto

Para o ministro da Cultura, os centenários "servem para recordar, esse verbo profundamente humano, mas também projetar para os nossos dias e futuro as obras dos autores. Eugénio de Andrade, em particular, é, de certa forma, uma porta à poesia iniciática. Podemos descobrir a poesia portuguesa, através das suas obras".

Pedro Adão e Silva confessou ter sido marcado pela antologia pessoal que Eugénio de Andrade fez da poesia portuguesa. "Isso permite conhecer Eugénio de Andrade, a poesia portuguesa e abrir portas para toda a poesia, mas também estimular para que mais pessoas escrevam e arrisquem a ser poetas", acrescentou.

O governante deixou ainda uma palavra elogiosa para a ação cultural do Município do Porto: "Não posso deixar de dar conta do conforto e da felicidade que sinto, enquanto ministro da Cultura, com a energia e o empenho que a Câmara do Porto coloca nesta área. É impossível não o reconhecer".

Conhecer melhor Eugénio de Andrade

Com curadoria de Jorge Sobrado, diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, e Rita Roque, "Eugénio de Andrade: A Arte dos Versos" apresenta parte do espólio editorial, audiovisual e fotográfico de Eugénio de Andrade, cedido em 2020 ao Município do Porto. "É, simultaneamente, um tributo a um nome maior das letras e da poesia portuense e portuguesa e um feliz reencontro com a obra e a vida do artista e poeta. Esta relação abre uma pequena janela, muito luminosa, sobre o espólio literário, artístico e fotográfico do autor", afirmou Jorge Sobrado.

Através dela, segundo o diretor do Museu e Bibliotecas, é possível ver "a gramática de trabalho do artista, através dos manuscritos, das suas emendas, da forma como ia depurando a sua arte poética, o seu próprio trabalho, mas também compreender as suas influências simbólicas, o seu universo de origem rural, mas também a sua ligação a um imaginário oriental. Permite conhecer as suas cumplicidades artísticas no seu tempo, com Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, José Rodrigues, Siza Vieira. Compreender também o alcance internacional que a obra e a figura de Eugénio de Andrade adquiriram no seu tempo. Isso é visível nas suas traduções, nas suas edições internacionais, nas suas viagens literárias", acrescentou.

Na inauguração usou também da palavra Arnaldo Saraiva, amigo de Eugénio de Andrade e incontornável investigador da sua obra – "Era um poeta conciso, poeta do mínimo", afirmou –, e Pedro Abrunhosa, que no âmbito das sessões "Leitores de Eugénio" (onde convidados partilham poemas da sua predileção do autor e que acontecerá quinzenalmente, às quintas-feiras, a partir de um ponto de leitura disponível no espaço expositivo) leu três poemas de Eugénio: "Litania", "Poema à Mãe" e "Arrepio na tarde".

A exposição estará, gratuitamente, aberta ao público na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, até 23 de abril, Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, de segunda a sábado, entre as 10 e as 18 horas. Até lá haverá mais de 30 iniciativas previstas nas comemorações do centenário do poeta portuense.

A Cooperativa Árvore apresenta também uma exposição, intitulada "Poesia a 100 Eugénio", que vai estar patente até dia 28 de janeiro. Integra obras de pintura e escultura de artistas convidados sobre o tema do imaginário poético de Eugénio de Andrade, uma coleção de fotografias do poeta com artistas com quem privou na época, assim como catálogos editados pela Cooperativa Árvore e outras publicações. A exposição recebeu ontem a visita de Rui Moreira e Pedro Adão e Silva.