Cultura

Novas conferências do Nau! levam memória, filosofia e história ao Homem do Leme

  • Notícia

    Notícia

#RenatoCS_Jota_Mombaca_Nau_15_07_03.jpg

O projeto Nau! do Cultura em Expansão leva duas novas conferências à zona do Homem do Leme, na Foz, no próximo fim de semana, com acesso livre.

Depois de Elísio Macamo e de Jota Mombaça, esta coprodução da Câmara do Porto com o TEP apresenta "Modos de produzir memória" na perspetiva de Marta Lança, pelas 19 horas do próximo sábado, e "Perspetivas e mundos às avessas ou Como abrir o círculo das circum-navegações", por Manuela Ribeiro Sanches, à mesma hora de domingo.

No primeiro caso, o ponto de partida é o pressuposto de que a nossa memória cultural deve tanto às políticas comemorativas e suas retóricas de legitimação como à cultura visual, determinadas pedagogias, artefatos e símbolos, e ainda à nossa capacidade de perspetivar as forças aí em jogo. A tendência de fixar-se o passado num sentido de unidade, paz e de consenso, mesmo quando se trata da mais atroz violência que pode até implicar quem o celebra, funciona muitas vezes como uma resposta à atualidade. É o caso de algumas das narrativas fundadoras de uma certa ideia de Portugal (descobrimentos, colonialismo brando, lusofonia, etc.) que têm sido muito disputadas, debatidas e desconstruídas.

Para perceber os elementos que atuam na construção e transmissão de determinadas memórias coletivas, e como influenciam a nossa perceção (ou concorrem para a ausência de memória), revisitaremos modos de produzir memória - memoriais, toponímias, efemérides e práticas artísticas e documentais - que ajudam a repensar a nossa memória cultural sobre aspetos da nossa História.

Na conferência de domingo, é ponto assente que são conhecidas as ficções tornadas célebres no século XVIII acerca dos 'outros' da Europa como crítica à escravatura e à tirania de reis e, sobretudo, de aristocratas. Tais ficções tiveram, por sua vez, origem nos relatos de viagem postos em circulação desde a era dos descobrimentos europeus, começando com a Carta de Colombo e prosseguindo com a de Pêro Vaz de Caminha sobre o achamento do Brasil.

Desde as Cartas Persas de Montesquieu até a'O ingénuo de Voltaire, passando pel'O cidadão do mundo de Oliver Goldsmith, para não falar do 'bom selvagem' de Jean-Jacques Rousseau, essas narrativas alimentaram tanto o gosto pelo exótico como a crítica da civilização europeia ou a sua sátira.

Para ajudar a questionar essas narrativas, leva-se à conversa outras, como a da vida de Olaudah Equiano, ou Gustavo Vassa, o Africano, e outros relatos de escravos, até aos mais recentes da autoria dos seus descendentes, como os itinerários europeus de Caryl Phillips ou de Richard Wright.