Sociedade

"Lúcia Afogada" na Casa Andresen

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Nos próximos dias 6 e 7 de
maio, às18h30, a Casa Andresen, no Jardim Botânico do Porto, vai
abrir as portas ao público para, com base na literatura de Sophia de Mello
Breyner, e tendo como pretexto a antecipação da inauguração da Galeria da
Biodiversidade, apresentar um espetáculo de teatro, performance, "vídeo
mapping" e ... uma baleia.


 


Esta baleia leva-nos até ao frio
mês de novembro de 1937. Quatro quilómetros a norte de Leixões, a Praia do
Paraíso amanheceu com uma visão invulgar. Uma "Balaenoptera musculus" tinha
dado à costa. As dimensões, do focinho à extremidade da cauda, o dorso cor de
ardósia, a cor negra das barbatanas peitorais e das barbas não deixavam margem
de dúvida: tratava-se de uma "baleia azul". O animal foi arrematado por um
industrial para aproveitamento do óleo e restantes despojos, tendo ficado o
esqueleto à disposição do Instituto de Zoologia "Dr. Augusto Nobre", da
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). O tratamento e
preparação decorreu na "Estação de Zoologia Marítima", que ficava situada numa
cota inferior à Avenida de Montevideu, na Foz.


 


Este é o esqueleto da baleia referido no conto "Saga", do livro Histórias da Terra e do Mar de Sophia de Mello Breyner Andresen. O
conto apresenta-nos o jovem Hans que das águas gélidas do norte da Europa, e
contrariando a vontade do pai, embarca num veleiro rumo ao sul. Ancorou numa
cidade de "colorido intenso e sombrio", que bem poderia ser o Porto. Acolhido
por um inglês, enverga a postura de um "homem de negócios" e constrói fortuna.
Compra "uma quinta que do alto de uma pequena colina descia até ao cais de
saída da barra", escreve Sophia. Quinta essa, tudo leva a crer, será a
mesma onde a autora e o primo, também escritor, Ruben A., terão brincado na
infância.. O conto será inspirado na história do bisavô de Sophia, Jann Hinrich
Andresen (que veio para Portugal em meados do século XIX, deixando para trás a
ilha de Förh, no arquipélago das Frísias). Nesta Quinta existia um palacete
que, em 1951, foi adquirido e entregue à Universidade do Porto.  E tudo na
casa era " desmedidamente grande", escreve Sophia: "desde os quartos de dormir
onde as crianças andavam de bicicleta até ao enorme átrio para o qual davam
todas as salas e no qual, como Hans dizia, se poderia armar o esqueleto da
baleia que há anos repousava, empacotado em numerosos volumes, nas caves da
Faculdade de Ciências por não haver lugar onde coubesse armado".


 


Voltamos às Histórias da
Terra e do Mar para
retirar outro conto: o da História da Gata
Borralheira. É
com base neste conto e na poesia extraída do livro Dia do Mar, que nasce "Lúcia Afogada".
Com interpretação de Dalila Carmo, que quis conhecer o ambiente da
casa para dar corpo à personagem, e Duarte Grilo, o espetáculo de Martim
Pedroso & Nova Companhia representa uma viagem de vida que começa na terra
e acaba no fundo do mar. Um delírio dramático e poético sobre a frugalidade que
encontra e oferece o cenário real dos contos de Sophia. E o esqueleto da
baleia? Terá sido possível armar o esqueleto naquele "enorme átrio para o qual
davam todas as salas"? Já vamos...


 


Das caves da Faculdade de Ciências passou para o seu Museu de Zoologia,
e após um trabalho de restauro e recuperação, o esqueleto da baleia ficará
então de novo patente ao público naquela que será a futura Galeria da Biodiversidade.
Nuno Ferrand, diretor do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade
do Porto (MHNC-UP) diz que "é a primeira vez que se junta um projeto de recuperação
de um museu universitário com um Centro de Ciência Viva. Será o primeiro Centro
de Ciência Viva dedicado às Ciências Biológicas, à evolução e à
biodiversidade".


 


A Casa vai ter exposições permanentes e, obedecendo à filosofia do que é
um Centro de Ciência Viva, terá espaços interativos para todas as classes
etárias. Irá também acolher atividades diversificadas dirigidas a todos os
tipos de público sobre o tema da biodiversidade sempre em cruzamento com outras
áreas de conhecimento, especialmente no âmbito das artes e da literatura.


 


A entrada é gratuita,
mas limitada à lotação da sala e sujeita à inscrição prévia através do e-mail eventos.mhnc@reit.up.pt


 


Fonte: Portal de Notícias da U.Porto