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Um milhão de euros para três projetos da U.Porto em concurso que assinala 500 anos da circum-navegação

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Filipa Brito

Concurso lançado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a propósito do quincentenário da primeira viagem à volta do mundo, premiou três projetos da Universidade do Porto com cerca de um milhão de euros.

De forma a comemorar os 500 anos da primeira viagem marítima à volta do mundo, comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães e por Juan Sebastián Elcano, entre 1519 e 1522, a Fundação para a Ciência e Tecnologia premiou oito projetos - com um valor que pode ascender aos 300 mil euros por projeto - sendo que três deles são liderados por investigadores da Universidade do Porto.

Um dos projetos da U.Porto distinguidos é o "AMAZING - AMAZonian snake toxins: creatING value from bioresources" e vai envolver investigadores de Portugal, Brasil e Equador na identificação, avaliação e valorização do potencial antimicrobiano de componentes dos venenos de serpentes que povoam a Amazónia Equatoriana.

Levado a cabo por Paula Gomes e Paula Gameiro, ambas docentes do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da U.Porto, integradas do Laboratório Associado para a Química Verde, a ideia pretende explorar o potencial das toxinas das serpentes amazónicas. Sendo os venenos fontes naturais de moléculas bioativas capazes de exercer funções biológicas diversas, têm vindo a ganhar destaque como fontes naturais cruciais para o desenvolvimento sustentável das próximas gerações de biofármacos.

O objetivo da investigação passa assim por tentar dar resposta a uma das maiores ameaças de saúde pública da atualidade: a disseminação de agentes infeciosos multirresistentes, desde bactérias ou fungos, a parasitas da malária ou da leishmaniose.

Outro dos projetos que acaba de obter financiamento por parte da FCT chama-se "Diversidade humana no espaço da circum-navegação de Magalhães: genética, história e cultura" e é liderado pela investigadora Luísa Pereira, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S).

Focando-se nos "vários grupos humanos, diferentes e comparativamente exóticos quando comparados com o fundo mediterrânico que compunha a tripulação da frota de Magalhães", este projeto procura "aplicar uma abordagem multidisciplinar (Biologia-Genética Populacional Humana, História Antropológica, Geografia-dinâmica populacional, e Artes e Comunicação de Ciência-tradução para linguagem leiga e narrativas visuais), centrada no contacto entre os diversos grupos encontrados durante essa viagem e representações subsequentes da diversidade humana", explica a investigadora.

O projeto, dividido em três partes distintas, foca-se ainda na "na variabilidade humana ao longo do espaço - da Europa, à América, Sudeste Asiático, África e de volta à Europa - e também ao longo do tempo, pela comparação de populações e suas dinâmicas desde o início do século XVI até ao presente e pela contextualização de ambientes social, cultural e político nos quais foram representadas como diversas", acrescenta Luísa Pereira.

Por fim, o terceiro projeto distinguido chama-se "BEESNESS" e vai juntar equipas do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), da Cardiff University (Reino Unido) e das universidades brasileiras UNICAMP e UNIOESTE, no sentido de compreender e prevenir o declínio das abelhas na região do Vale do São Francisco.

Coordenada pela investigadora Laura Guimarães, do CIIMAR, a equipa, que envolve também especialistas em ecologia de abelhas brasileiras, toxicologia ambiental e química, vai estudar a gestão da polinização e da agricultura sustentável na maior região exportadora de frutas do Brasil. O conhecimento da fauna apícola local permitirá ainda explorar até que ponto os agrotóxicos (pesticidas) utilizados nas culturas agrícolas convencionais interferem na dinâmica das populações de abelhas. 

Além dos três selecionados da U.Porto, foram ainda contemplados mais cinco projetos liderados por equipas da Fundação Gaspar Frutuoso, do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Aveiro e da Universidade do Minho. No total, a FCT vai distribuir um financiamento de 2,3 milhões de euros pelos oito projetos, que serão desenvolvidos ao longo dos próximos três anos, em diferentes áreas associadas à circum-navegação.