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UEFA cancelou Supertaça Europeia no Porto sem informar a Câmara e alegou pandemia como argumento

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Miguel Nogueira

O presidente da Câmara do Porto escreveu à UEFA manifestando "surpresa e consternação" por ter tido conhecimento, através da comunicação social, que o Comité Executivo da UEFA decidiu, unilateralmente, que a cidade do Porto já não seria o local para a realização do evento 2020 UEFA SUPER CUP, tendo invocado a pandemia como argumento, ao dia 17 de junho. O Executivo Municipal está "solidário" com a posição de Rui Moreira e subscreve a missiva, que exige a reparação dos prejuízos causados pela decisão, altamente lesiva para a imagem externa da cidade do Porto.

Todos de acordo que "a cidade do Porto foi muito maltratada" e que a "mentira" invocada pela UEFA para sustentar o rompimento de um acordo estabelecido há mais de dois anos com o Município do Porto não pode passar em claro, tanto mais que a cidade, parte interessada, não foi sequer informada da decisão de transferir a Supertaça Europeia 2020 para Budapeste.

Foi Ilda Figueiredo, vereadora da CDU, quem trouxe o assunto à reunião de Câmara desta segunda-feira, pois sentiu necessidade de comentar a carta que Rui Moreira enviou à UEFA a 16 de setembro, e sobre a qual o autarca deu conhecimento ao Executivo.

"Creio que vale a pena que isto fique em ata. É inadmissível que uma posição destas tenha sido tomada, de anular a 2020 UEFA SUPER CUP sem prévia audição da Câmara e sem que a cidade do Porto tenha sido defendida por outros que defenderam outras cidades, como a cidade de Lisboa" para outras competições, afirmou. "É uma discriminação clara da cidade do Porto por parte de todos", continuou Ilda Figueiredo, lamentando que tanto o Primeiro-Ministro e Presidente da República, que apoiaram a realização em Lisboa da UEFA Champions League, não tenham tido a mesma atenção com o Porto.

Rui Moreira recuou um pouco no tempo para explicar que a realização da competição desportiva na cidade estava acertada há alguns anos, no âmbito do acordo estabelecido para organização da Liga das Nações. A competição, avaliou, "correu bem e Portugal até ganhou", tendo o evento merecido "reconhecido sucesso e distinção por parte das entidades envolvidas", nomeadamente UEFA, Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e Município de Guimarães.

"Estávamos portanto nós convencidos de que este ano iríamos organizar em agosto [a Supertaça Europeia], mas se não fosse possível, por causa dos calendários internacionais, em setembro ou outubro que ela se viesse a realizar", acrescentou.

Entretanto, ainda no primeiro semestre de 2020, Portugal candidata Lisboa à realização da Final da Liga dos Campeões. "Coisa que a nós não nos dizia respeito nem nos tínhamos de pronunciar sobre ela", continuou o presidente da Câmara do Porto. "O que já não me parecia razoável é que, como moeda de troca, sem que tivéssemos sido ouvidos pela UEFA ou informados pela Federação, por causa da Final da Liga dos Campeões em Lisboa, a Supertaça já não pudesse ser no Porto. E ainda me disseram que se calhar agora só em 2023", declarou Rui Moreira.

Rui Moreira, que foi convidado para a cerimónia oficial do anúncio da final da Liga dos Campeões em Lisboa, faltou à chamada, já desagradado pela ausência de palavra relativamente ao evento. "Ainda estive com as pessoas e esperava que, a seguir, me dessem alguma explicação razoável", o que não veio a suceder, clarificou.

Mais tarde, o presidente da Federação Portuguesa de Portuguesa justificou ao autarca que a realização da 2020 UEFA SUPER CUP no Porto já não se poderia efetivar, por ser concomitante com a organização da final da UEFA Champions League. Mas que haveria o compromisso de se realizar em 2022 ou 2023, uma vez que 2021 já existia acordo com outra cidade europeia. "Mas a verdade é que ninguém nos disse nada [em concreto]", frisou.

Município contesta argumentos da UEFA

Para Rui Moreira esta justificação até seria "razoável", mas sucede que não alinhou com o discurso da UEFA. "O pior surgiu quando fomos verificar os argumentos que a UEFA invocou para que o evento não fosse organizado na cidade do Porto". Ao dia 17 de junho, quando os números de novos casos por Covid-19 eram, segundo os boletins das autoridades de saúde, inexistentes na cidade, "a UEFA disse, na sua página oficial, que a Supertaça não se realizava no Porto por causa da pandemia", reproduziu o autarca.

"Considero isso absolutamente inaceitável, contribui para o desrespeito para com a cidade do Porto e, além disso, é mentira", afirmou Rui Moreira, que contesta a visão adulterada da situação, tanto mais que, à data de realização da Final da Liga dos Campeões, em Lisboa, o cenário da pandemia era pior na capital. "Também não me consta que em Budapeste não haja pandemia", acrescentou ainda.

O presidente da Câmara do Porto, que disse ter aguardado pacientemente uma resposta oficial da entidade, deu agora o tempo por esgotado e escreve à UEFA exigindo que perante esta atitude "incompreensível" e pela "notória falta de fundamento justificativo" para a alteração, a cidade do Porto, "como cidade anfitriã", que alocou recursos financeiros e humanos à organização deste evento desportivo, e prescindiu de organizar ou receber outros, como a Volta a Portugal em bicicleta, não deixará de "reclamar a reparação de todos os prejuízos que lhe estão a ser causados com esta decisão", pode ler-se na carta. Na reunião, Rui Moreira mostrou-se, ainda assim, disponível para a "discussão desta decisão e alcance de uma solução favorável para todos", que poderá passar por uma compensação financeira ou pela promessa de a Supertaça Europeia ser realizada no Porto daqui a dois anos. Se nenhuma destas soluções se materializar, avisou: "em Géneve [na Suíça, país em que está a sede da UEFA] há tribunais".

Executivo manifesta total apoio a posição de Rui Moreira

Além de Ilda Figueiredo, que aflorou o tema e disse ter ficado "estupefacta" pela discriminação e desrespeito de que a cidade foi alvo, também a bancada do Partido Socialista, pela voz da vereadora Maria João Castro, manifestou "total solidariedade". "A cidade do Porto foi muito maltratada", afirmou a porta-voz do PS.

Álvaro Almeida, vereador do PSD, alinhou. "A carta do senhor presidente foi em si surpreendente, tanto mais porque o Porto não fez parte do processo de decisão. Admito também que, até pelos interesses do país, pudesse haver essa troca, mas a cidade do Porto tinha de ter participado. Sendo assim, chocou-me", referiu.