Sociedade

Teia burocrática do Estado prejudica a qualidade da gestão das organizações

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O presidente da Câmara do Porto afirmou esta tarde que "quase tudo o que tem sido feito em termos legislativos contribui para que a qualidade de gestão [das organizações] acabe por resultar mal", afetando não só setor público como também o privado. Rui Moreira falava na sessão de abertura da conferência sobre "A Qualidade da Gestão", promovida pelo Conselho Económico e Social, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett.

Na iniciativa, que trouxe ao Porto antigos e atuais conselheiros, parceiros sociais e partes interessadas da sociedade civil, o autarca assinalou que "precisamos fazer melhor". O Estado "deve ser capaz de melhorar a qualidade da sua gestão"e, consequentemente, "não entravar o crescimento do setor privado", defendeu.

Fazendo o exercício de olhar para dentro da sua própria 'casa', Rui Moreira considerou que antes mesmo de chegar à presidência da Câmara do Porto já a autarquia, ao contrário de outras realidades nacionais, era tida como um exemplo de boas práticas de gestão. "Olhando para dentro, os níveis de eficiência eram muito interessantes. Mas o esforço era só virado para dentro".

Segundo o edil, faltava ao Município do Porto desempenhar o papel de "facilitador". Tarefa que assumiu como sua e que passou a ser incutida na estrutura municipal. "É fundamental estabelecer o interface com o privado", declarou Rui Moreira, esclarecendo que "mais do que 'luxemburguesar', basta colocar os diferentes agentes em contacto".

Numa sessão também acompanhada pelo vereador da Economia, Turismo e Comércio, Ricardo Valente, o presidente da Câmara do Porto reconheceu que os padrões de qualidade da gestão e respetivas repercussões negativas na produtividade dos trabalhadores derivam de "um modelo protecionista" que continuou a vigorar após os primeiros anos da democracia portuguesa.

"A economia doméstica confundia-se com a das empresas e o nosso único fator de competitividade eram os salários baixos e a mão-de-obra barata", analisou. E, embora nos últimos anos, se tenha assistido a uma "importante requalificação de recursos humanos", ainda está "longe de chegar aos níveis que pretendemos", analisou Rui Moreira.

Este "atraso ancestral que tarda em ser recuperado" está também relacionado com as políticas públicas e a forma como as prioridades, neste âmbito, "se ajustaram ou não àquilo que era a necessidade de desenvolver um crescimento mais sustentado e à forma como isso afetou as regiões", defendeu.

Para o autarca, o dinamismo empresarial e a economia aberta da Região Norte "nem sempre foram tratados como prioridades estratégicas". Quando ainda não era presidente de Câmara e podia ter um discurso mais desabrido e "politicamente incorreto", Rui Moreira já comparava que em tempos de crise, "quando está mau tempo, dizem que somos os capitães do navio, mas quando está bom tempo dispensam-nos de capitanear o navio", recordou. 

Na sessão de abertura da conferência "A Qualidade de Gestão", também o presidente do Conselho Económico e Social (CES), António Correia de Campos, admitiu que o país "herdou um défice histórico de qualificações" (48% da população concluíram os primeiros nove anos de escolaridade e apenas 25% tem um curso superior).

Nessa medida, destacou que acelerar a escolaridade obrigatória, combater o abandono escolar e criar condições para que os profissionais qualificados se mantenham no país auxiliará a elevar os indicadores de produtividade que, considerou o presidente do CES, estão intrinsecamente ligados à qualidade das práticas de gestão.

Com as micro e médias empresas a dominarem o panorama da economia nacional e num cenário em que os próprios empregadores têm baixos níveis de formação, António Correia de Campos reconheceu que o debate desta problemática deve ser amplo.

Por esse motivo, entendeu promover este encontro no Porto: "Se esta conferência tivesse lugar em Lisboa, 80% dos participantes que aqui estão não estariam lá", disse.