Cultura

Teatro Municipal do Porto retoma ligação com um programa alicerçado na produção artística nacional

  • Notícia

    Notícia

Palmas ao cair do pano no primeiríssimo ato. O público regressou ao Teatro Municipal do Porto - Rivoli, ao final da tarde desta terça-feira, depois de meses a fio sem pisar o interior do Grande Auditório Manoel de Oliveira. A ligação está retomada e ainda que à capacidade máxima de 50% da sala, o ambiente equidistante fez-se caloroso na apresentação da nova temporada, que investe na produção cultural nacional, abraçando um elevado número de artistas e profissionais do meio artístico português. 

A missão do Teatro Municipal do Porto (TMP) é precisamente essa: ser palco-equilíbrio entre o que se faz na cidade, o que circula no país e o que internacionalmente encontra no Porto matéria para se expandir. Lugar de descobertas e confirmações artísticas, sítio onde diferentes abordagens são programadas e apresentadas em múltiplas escalas.

E, numa época marcada pela incerteza, esteio também dos artistas nacionais, ressalvou o presidente da Câmara do Porto, na breve intervenção que antecedeu os principais destaques da programação da nova temporada 2020/2011, apresentados pelo diretor artístico do TMP, Tiago Guedes.

"Sabemos que nestes tempos difíceis (...), no meio de tantas dificuldades por que passam muitas famílias, muitas pessoas e muitas empresas, haverá sempre a tendência de alguns questionarem: 'para quê subsidiar a cultura?'. Nós não subsidiamos a cultura. Nós fazemos um investimento na cultura e vamos continuar a fazê-lo", declarou o autarca, com o regozijo de quem há sete anos superou uma outra crise, essa do vazio cultural de uma cidade cinzenta.

"Em 2013, quando cá chegámos, vivíamos também uma situação de crise, era uma crise diferente, mas era uma crise difícil. Apostámos na cultura e dissemos que era indispensável e fundamental", recordou.

Definitivamente marcada pela volatilidade, a nova temporada do Teatro Municipal do Porto, estendida até fevereiro do próximo ano, vai estar sujeita a "todas as contradições e contrariedades do momento", admitiu Rui Moreira. Mas, assim vaticinou, "tem de ser uma aposta ganha pela cidade", numa sessão a que assistiu o Embaixador da Áustria em Portugal, Robert Zischg, o presidente da Assembleia Municipal do Porto, Miguel Pereira Leite, vereadores, e o conselho de administração da empresa municipal Ágora - Cultura e Desporto do Porto, entre outras personalidades ligadas à cultura da cidade. 

Reagendamentos e estreias marcam semestre com 69 espetáculos

A prioridade foi reagendar os espetáculos, cancelados a partir do momento em que TMP fechou portas, depois de "Onironauta", da coreógrafa Tânia Carvalho, ter subido ao palco do Teatro Campo Alegre, a 7 de março.

Durante os meses de interregno, o "trabalho foi intenso", com os esforços a convergir para cinco linhas de ação: redesenhar, repensar, recentrar, remontar, reativar, enunciou Tiago Guedes, que revelou terem sido anulados 50 espetáculos.

O tempo foi, portanto, empregue na montagem de "um puzzle complexo", acrescentou Rui Moreira. E, ao contrário do que seria de expectável, não resultou numa manta de retalhos, mas sim numa programação completamente nova, reinventada e reconfigurada a partir de projetos adiados, mas também de 30 novas estreias e de novos aditivos, como o TMP Online e novas experiências que acrescentam aos focos já anteriormente definidos.

Temporada arranca no dia 17 com maratona de Tchekhov

Numa temporada em que a dança é o foco central, as honras de abertura far-se-ão, todavia, com o teatro. "A vida vai engolir-vos", uma recriação do ator e encenador português Tónan Quito, a partir de quatro peças de Anton Tchekhov - "A gaivota", "O tio Vânia", "Três irmãs" e "O ginjal" - traduz-se em dez horas de espetáculo, distribuídas entre o Teatro Rivoli (primeira parte) e o Teatro Nacional de S. João (segunda parte).

Este é também o mês de recomeço do Modos de Ocupar, um ciclo de nove conferências em ressonância com nove espetáculos da temporada 2019/2020, com curadoria e programação do jornalista Pedro Santos Guerreiro. A primeira decorre no dia 23, e vai colocar "Dedos na ferida, mãos na cultura". Tiago Guedes sublinhou a pertinência do debate, num tempo difícil, "que pôs a nu a situação delicada dos artistas".

O novo circo, cada vez mais acarinhado pelo Teatro Municipal do Porto, marca ainda a agenda de setembro, com o espetáculo do coletivo portuense Erva Daninha/Daniel Seabra, "Por um fio", a decorrer na Praça D. João I, nos dias 25 e 26 de setembro.

Em outubro, o regresso do FIMP - Festival Internacional de Marionetas do Porto, um dos mais reconhecidos festivais nacionais das marionetas e formas animadas, que apresentará uma parte significativa dos seus espetáculos no Rivoli e no Campo Alegre. Este ano, a exemplo do que tem vindo a acontecer a cada duas edições e como fator de interesse acrescido, "será apresentado o trabalho vencedor da 4.ª edição da Bolsa de Criação Isabel Alves Costa, uma bolsa promovida pelas Comédias do Minho, pelo FIMP e pelo TMP, e que invoca Isabel Alves Costa, figura incontornável destas estruturas e das artes performativas do Porto", sublinhou Rui Moreira.

"O bom filho à casa torna". Outubro será também o mês do ciclo poético Quintas de Leitura regressar ao Campo Alegre, depois de uma bem-sucedida experiência online, em pleno confinamento, visualizada por mais de 11 mil pessoas. Por isso, a partir de agora, de dois em dois meses, uma sessão vai passar a ser emitida através da plataforma TMP Online, revelou Tiago Guedes, explicando que o pioneiro projeto "passou a ser algo obrigatório nos tempos que correm". Nesta temporada integra 14 récitas, que serão transmitidas "em dias e horas específicos", a um custo mais reduzido (menos 50% do valor da bilheteira).

No próximo mês, uma novidade que promete arrebatar o público. "O Festival Eurovisão da Canção Filosófica", produzido por Massimo Furlan & Claire de Ribaupierre, que vai desafiar pensadores europeus (filósofos, historiadores e antropólogos) a escrever textos que, em termos de forma, devem seguir os códigos poéticos de uma canção, isto é, devem ter uma estrutura, refrão e até podem rimar. O festival decorre nos dias 2 e 3 de outubro e será apresentado por Catarina Furtado.

De 6 a 8 de novembro, Gonçalo Amorim e Paulo Furtado (ou "The Legendary Tigerman") apresentam "Poesia da idade do rock", um espetáculo sobre a dualidade do rock e da poética.

No TMP dança-se todos os meses

Tal como na sessão de apresentação à imprensa, também para o público, o diretor do Teatro Municipal do Porto fez um périplo pelos espetáculos de dança. Além do foco na programação de Marlene Monteiro Freitas, coreógrafa cabo-verdiana, que há três anos a TMP requisitava, e do artista associado para as próximas duas temporadas, Jonathan Uliel Saldanha, há uma miríade de apresentações, que até remontam a peças montadas nos anos 30 do século XX.

É o caso dos espetáculos apresentados pela Companhia Nacional de Bailado, com um programa que engloba "A mesa verde", de Kurt Joos, e "Chronicle", de Martha Graham, e que ilustra a estética dos anos 30, que subirão ao palco do Rivoli em fevereiro de 2021.

Antes disso, em novembro, chegam as décadas de 60 e 70 com o CCN Ballet de Lorraine, que traz "Rain Forest" e "Soundance", criações de Merce Cunningham com cenários originais de Andy Warhol.

Já os anos 90 serão representados com "Drumming", de Anne Teresa de Keersmaeker, agendado para março, espetáculo que estreou na Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura. O novo milénio, por sua vez, entra com "The show must go on", de Jêrome Bel, em fevereiro do próximo ano.

Encerramento do Cultura em Expansão em dezembro

Em dezembro, no palco do Grande Auditório do Teatro Rivoli, decorrerá o encerramento do programa anual Cultura Em Expansão, este ano já na sua 7.ª edição. Em 2020, o projeto municipal volta a cruzar diversas disciplinas artísticas e centra-se em quatro polos principais: a Junta de Freguesia de Campanhã, o Grupo Musical de Miragaia, a Associação de Moradores do Bairro Social da Pasteleira e a Associação de Moradores da Bouça.

O encerramento decorrerá no dia 19 de dezembro, num concerto dos Blind Zero com a Orquestra Juvenil da Bonjóia.

Programa Paralelo

O programa de aproximação às artes performativas "Paralelo", coordenado por Ana Cristina Vicente, verá nesta nova temporada a lotação ainda mais reduzida, mas tal não vai ser impeditivo para que o projeto, muito voltado para as famílias e escolas, cumpra o desígnio de serviço educativo.

Nesta edição, "há uma aposta forte nos artistas locais, muitas estreias, concertos, teatro, cinema de animação, instalações, marionetas", entre outros atrativos, destacou a responsável, que sublinhou o lançamento de fascículos colecionáveis sobre as "História(s) da dança", associados a alguns espetáculos programados neste âmbito.

89.º Aniversário do Rivoli

A celebração do 89.º aniversário do Teatro Rivoli acontecerá entre 20 e 24 de janeiro, dias em que uma programação extra desafiará o público a experienciar propostas da literatura à dança, da música ao circo contemporâneo, passando pelo teatro.

Os festejos coincidem com o arranque do ciclo Modos de Comer, a 20 de janeiro, com curadoria de Hugo Dunkel. Vai consistir em quatro jantares-conferência - um evento por mês, que culminará num festival de três dias em junho, em que celebrará a alimentação e as suas manifestações sociais, políticas, culturais e ecológicas.