Cultura

Sob o signo da resistência ao esquecimento, o dia de abertura da Feira do Livro exaltou a obra "1820. Revolução Liberal do Porto"

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Tal como inscrito no programa da Feira do Livro do Porto, o certame literário de 2020 "apresenta-se sob o signo da resistência: ao esquecimento, ao isolamento, à perda de memória."

E foi sob a égide da memória de um tempo que moldou uma nação que o dia da abertura da Feira do Livro do Porto, que decorreu ontem, dia 28 de agosto, naquela que é a sétima edição organizada pela Câmara do Porto, que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acompanhou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, no primeiro ato oficial do festival literário da Invicta, dentro do recinto da feira. 

Momentos antes, Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Moreira haviam depositado duas coroas de flores no Mausoléu que alberga o coração de D. Pedro IV, na Igreja da Lapa.

A apresentação oficial do livro/catálogo da exposição "1820. Revolução Liberal do Porto", da autoria de José Manuel Lopes Cordeiro, decorreu no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, pelas 16 horas.

No palco do Auditório da BMAG, Marcelo Rebelo de Sousa, que prefaciou o livro, Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, Nuno Faria, o coordenador da Programação da FLP, e o autor do livro, o professor José Manuel Lopes Cordeiro, apresentaram oficialmente o livro/catálogo que exalta a memória de um movimento de rebelião local de importância nacional: o 24 de agosto de 1820.

Rui Moreira começou por agradecer a Marcelo Rebelo de Sousa o facto de "estar de volta à Feira do Porto", salientando que "nunca faltou e aqui está hoje, mais uma vez. O Porto está agradecido".

Deixou, também, uma palavra de agradecimento ao comissário Pedro Batista, que "faleceu inesperadamente no dia da abertura oficial da exposição que deu origem ao livro, no dia 20 de fevereiro deste ano". Rui Moreira realçou ainda a Revolução Liberal de 1820 como representativa de "uma mensagem de liberdade, que continua viva e que celebramos aqui na Feira do Livro".

Nuno Faria, por seu lado, sublinhou a "programação cultural que ficou suspensa e que é retomada, em parte, neste festival literário, de forma material e imaterial, com uma exposição patente no Museu da Cidade - Casa do Infante - que pode ser visitada até outubro - e na FLP, "através deste livro que faz a narrativa de um ano marcante: 1820".

Nuno Faria afirmou ainda a "preparação longa" da celebração do bicentenário da Revolução Liberal do Porto, conduzida pelo professor Cordeiro Lopes, cujo repto foi o de "sondar o espírito daquele tempo e o que ressoava nos dias de hoje".

Adiantou, ainda, que "se as revoluções se fazem na rua", a exposição comemorativa de 1820 se fez "no prelo, através da força tipográfica", numa edição cronológica que "tenta retratar o tempo histórico que se viveu no Porto".

O autor dos textos da obra/catálogo tomou a palavra para "começar por aquilo que parece justo: agradecer a todos os envolvidos na exposição e na elaboração do livro", enfatizando ter "a satisfação de saber que o comissário destas comemorações leu o livro, que ia comentando aquando da sua elaboração".

Em declarações exclusivas ao Porto., o professor Cordeiro Lopes adiantou que "inicialmente foi convidado para comissariar a exposição evocativa do bicentenário da Revolução de 1820, mas que quando começou a trabalhar, logo se apercebeu que o tema precisava de ser mais desenvolvido, "até porque havia alguns períodos dentro deste intervalo que não eram ainda muito conhecidos, noutros havia coisas que estavam com imprecisões, que importava corrigir, e de modo que fui começando a escrever" e fê-lo olhando para a revolução "pelo olhar do Porto, não por bairrismo, mas por uma questão de justeza histórica."

O autor adianta, igualmente, que foi nesse momento que a fisionomia do livro, em termos de conteúdo se começou a definir, no sentido de retratar este ano - desde a Revolução de 1820 até ao regresso da família Real e de D. João VI em julho de 1821.

"Este acontecimento é um acontecimento nacional; o que se passou no Porto há 200 anos foi, na realidade, a fundação do regime em que nós ainda vivemos, o regime constitucional, talvez tirando o Estado Novo, onde de facto o Liberalismo não funcionou, mas na realidade as raízes e as bases da nação são no 24 de agosto; primeiro foi um acontecimento do Porto, porque Lisboa não aderiu, antes pelo contrário, até rejeitou e atacou, mas a partir do momento em que todo o país adere, o que foi muito rapidamente, ele adquiriu uma importância fundadora".

"A Câmara do Porto fez muito bem em fazer umas comemorações próprias; pessoalmente achava que deveria haver comemorações nacionais; aliás, é o único acontecimento bem sucedido da história contemporânea que nasce no Porto e é mau que haja esse preconceito em relação ao Porto, porque ele acaba por existir e essa é uma responsabilidade do governo; ao contrário do Presidente da República que manifestou um interesse total, escreveu o prefácio, vem participar na apresentação, de modo que, em termos institucionais, temos o interesse da Presidência da República", clarifica o professor Cordeiro Lopes.

O facto de se introduzirem estas comemorações da Revolução de 1820 na programação da FLP é precisamente o momento exato para recomeçar, pois estas comemorações incluíam um programa muito vasto e, acima de tudo, era um programa que visava e incluía a participação da população da cidade. "As comemorações e aquilo que ainda é possível fazer estão agora a recomeçar e irão prolongar-se até janeiro 2021."

"O país estava suspenso no Porto e foi no Porto que se iniciou a Revolução do Porto que aqui é evocada, mas temos de o fazer sem retirar a dimensão nacional que, obviamente, tem de estar presente", explicou o professor, adiantando que o objetivo foi também o de esclarecer "essas três semanas que estiveram um pouco na obscuridade e que estão retratadas no livro e na exposição".

Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se à apresentação pública do livro/Catálogo "1820. Revolução Liberal do Porto", como uma "honra e prazer" de estar presente em tal momento, "em estar no Porto e em falar de liberdade, a cidade "onde a liberdade tem a sua afirmação plena".

Continuou, afirmando que "uma Feira do Livro é uma expressão de liberdade e, este ano, mais do que noutros anos, sentimos que é uma festa da liberdade, depois do confinamento, ainda que voluntário, e que a cultura que esteve praticamente parada, reduzida ao grau zero de capacidade de expressão, é aqui representada, também, pelo livro, que é a expressão máxima de liberdade".

"A riqueza da obra do professor Cordeiro Lopes, a programação da FLP e o empenho criativo e livre de Rui Moreira, que o tem e terá sempre, é o que caracteriza o Porto: a criatividade e a liberdade", sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República concluiu afirmando que a materialização da obra "1820. Revolução Liberal do Porto" trata de abordar "de forma circunstanciada a Revolução do Porto, e celebra a Revolução Liberal do Porto, porque ela é nacional, mas é do Porto, ocorreu no Porto e é apresentada numa Feira do Livro que é dedicada à mulher, concretamente, na pessoa da poeta Leonor de Almeida", que será homenageada hoje, pelas 17 horas, com a atribuição do seu nome numa das Tílias da Avenida do mesmo nome, que alberga já a memória de inúmeros ilustres portuenses. Hoje não será exceção.

A GUERRA - ANDRÉ LETRIA

No seguimento da apresentação pública da obra/Catálogo "1820. Revolução Liberal no Porto, Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Moreira visitaram a exposição "A Guerra" da autoria de André Letria, que está patente no Foyer do Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett.

A exposição de André Letria tem como base o livro "A Guerra", com texto de José Jorge Letria, e foi galardoado com o mais recente Prémio Nacional de Ilustração.

Este trabalho expositivo "parte de esboços de ilustrações, desde o arranque até à apresentação final", segundo afirmado pelo autor.

A Guerra nasce "como uma doença sussurrada e cresce a partir do ódio, da ambição e do medo", num mundo cada vez mais perigoso e representa as preocupações que temos.

Esta mostra é demonstrativa do processo criativo do autor e ilustrador e agrega o conjunto de ilustrações que estão incluídas no livro publicado pelo Pato Lógico em maio de 2018.

Recorde tudo o que precisa de saber sobre horários, lotação, medidas sanitárias, bilhetes para eventos, antes de visitar a Feira do Livro do Porto. 

Todas as informações são permanentemente atualizadas no site oficial da Feira do Livro e no Facebook.

Consulte aqui a programação completa da Feira do Livro do Porto 2020.