Cultura

Serralves mostra a raiva estética de Joan Miró

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A Casa de Serralves inaugura na próxima quarta-feira a exposição "Joan Miró e a morte da pintura", que tem como curador Robert Lubar Messeri, destacado especialista mundial na obra do artista catalão (1893-1983).

A exposição centra-se na produção artística de Miró em 1973, altura em que, com 80 anos de idade, preparava uma importante retrospetiva no Grand Palais, em Paris. Numa série de telas perfuradas de 29 de março de 1973, de relevos tecidos ("Sobreteixims" e "Sobreteixims-Sacks") executados em 1972 e 1973 em colaboração com Josep Royo e em cinco "Toiles brûlées" (Telas queimadas) executadas entre 4 e 31 de dezembro de 1973, Miró deu largas à sua raiva estética. A crítica anunciava então a "morte da pintura", mas Miró colocou-a à prova.

Reunindo um conjunto de telas e objetos, uns pertencentes à Coleção do Estado Português em depósito na Fundação de Serralves e outros provenientes de diversas coleções públicas e privadas de Espanha e de França, esta exposição propõe-se analisar as radicais práticas artísticas de Miró nesse ano.

Uma secção documental oferece ao visitante a possibilidade de observar os métodos de trabalho de Miró na execução dos "Sobreteixims", incluindo um filme do conhecido fotógrafo catalão Francesc Català Roca que regista o processo de criação e destruição das "Toiles brûlées".

No catálogo da exposição, Robert Lubar Messeri - que foi já o comissário de "Joan Miró: Materialidade e Metamorfose", que expôs em 2016/2017 a quase totalidade das obras de Miró na posse do Estado - examina o conceito de assassinato estético e o envolvimento do artista catalão com as práticas daquilo a que, em 1927 e 1928, chamava "anti-pintura", para evidenciar o modo como a tensão entre pintura e anti-pintura que perpassou a sua obra subsequente atingiu um crescendo em 1973.

A publicação inclui ainda, pela primeira vez em versão inglesa e portuguesa, uma entrevista entre Joan Punyet Miró, neto do artista, e Josep Royo, com quem Miró iniciou em 1969 uma longa e altamente produtiva relação de trabalho.

"Joan Miró e a morte da pintura" fica patente no piso térreo da Casa de Serralves até 3 de março próximo.

Recorde-se que também a coleção com as 85 obras de Joan Miró detidas pelo Estado Português irá ficar em Serralves por pelo menos 25 anos, de acordo com os protocolos recentemente assinados entre a Fundação, o Governo e a Câmara do Porto.