Cultura

Se os portuenses não vão à serra, vem a pá eólica gigante até à Baixa

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Uma pá eólica gigante, com 41 metros e 8,2 toneladas, está deitada na placa central da Avenida dos Aliados, impondo a sua presença a quem passa. Mas a posição engana, já que o objetivo é erguer bem alto uma série de apelos.

Desde logo, chamar a atenção para a 1.ª Porto Design Biennale (PDB), que está a decorrer no Porto e em Matosinhos com várias conferências, debates, exposições, performances e outras iniciativas. Mas também para a importância do design, a criatividade artística e utilitária que encerra, a sua ligação à indústria ou a sua presença no quotidiano, embora muitas vezes despercebida. E também apelos no domínio da defesa do ambiente e do combate contra as alterações climáticas, já que a funcionalidade do gerador eólico que este tipo de pá integra visa precisamente a produção de energia mais limpa, conforme salientou José Bártolo, curador-geral da PDB, na apresentação pública da instalação, a meio da tarde de hoje.

O fator curiosidade é um dos que contribui para tal inusitada presença estar a atrair as atenções de portuenses, e também de turistas, pois é o tipo de objeto industrial que nos habituámos a ver apenas no cimo das montanhas. Esse aspeto foi mesmo sublinhado pelo presidente da Câmara do Porto, tendo Rui Moreira apontado que esta é uma oportunidade rara de as pessoas verem de perto (é desejável que não cheguem a tocar...) um objeto industrial que se tornou familiar somente no horizonte.

Mas, além de elemento de marketing direto a propósito da Porto Design Biennale, esta pá da empresa Enercon tem também uma mensagem implícita que, de resto, se relaciona com o tema genérico da própria bienal - as tensões do novo milénio - pretendendo ao mesmo tempo suscitar a reflexão em torno dele e espelhar as transformações de Portugal e do Mundo nos últimos anos.

Com o título "Hard Design - Os Filhos de Eos", a instalação, que tem curadoria de Eduardo Côrte-Real, fica nos Aliados até ao próximo domingo e terá sequência no quilómetro de cabo de fibra ótica da Altice que, com os mesmos objetivos, será suspenso na fachada da Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, no próximo dia 24.

"Decidimos chamar à primeira instalação «Os Filhos de Eos» e à segunda «O Tear de Aracne». Dificilmente encontraríamos dois elementos mais relevantes do que as peças desta exposição para mostrar as transformações que Portugal e o mundo sofreram nos últimos anos, numa bienal cujo título é Post Millennial Tension", explica Eduardo Côrte-Real, evidenciando que "os parques eólicos são hoje uma presença evidente na paisagem, seja qual for a viagem que se faça no nosso país, e o peso relativo da energia por eles gerada no total da energia consumida aumenta todos os anos".

Por outro lado, acrescenta o curador, "de uma forma literalmente subterrânea, a fibra ótica conquistou as nossas cidades, suportando tecnicamente redes de alta performance pelas quais passam a grande maioria das comunicações e conteúdos de informação e entretenimento".

Assim, "sendo constituída por duas peças, a exposição provoca um série de polaridades. Os Filhos de Eos são as forças brutas anteriores aos humanos que estes procuram compreender e utilizar (sendo o vento uma das mais antigas); a Teia de Aracne corresponde à vertigem de desafiar os deuses e de, em consequência, permanentemente laborar em construções artificiais capazes de cobrir o próprio mundo", conclui Eduardo Côrte-Real.

O nascimento e a concretização da Porto Design Biennale são iniciativa das Câmaras do Porto e Matosinhos, que entregaram a operacionalização à ESAD - idea. A programação prolonga-se até 8 de dezembro com uma variedade de eventos em diferentes espaços dos dois concelhos.