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Sardinhas e festa na noite de São João no Porto só se for em casa e nunca aos "centos"

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O presidente da Câmara do Porto juntou ontem os conselheiros que fazem parte dos Conselhos Municipais de Segurança e Economia para debater o desconfinamento na cidade. Do debate saiu a ideia unânime de que não pode haver facilitismo quanto às festas de São João e que, além do cancelamento do programa oficial, já anunciado há mais de dois meses por Rui Moreira, também os arraiais particulares e os grandes ajuntamentos devem ser evitados.

A reunião juntou as principais instituições da cidade no grande auditório Manoel de Oliveira, no Rivoli, na tarde de terça-feira, entre as quais se contavam as forças de segurança, como PSP, GNR e Polícia Municipal, mas também a proteção civil, os responsáveis pelos transportes, como Metro e STCP, e as autoridades de saúde, além dos diversos agentes económicos e representantes dos partidos.

Rui Moreira, que a 4 de Abril anunciou que não poderia, este ano, haver festas de São João no Porto, tendo então cancelado todos os concertos, promoção e festejos oficiais - e também o fogo de artifício - iniciou a reunião lembrando que o Município não tem poderes para proibir as pessoas de circularem nas ruas nem de se juntarem em casa, mas mostrou-se preocupado, pedindo o contributo de todos.

Carlos Nunes, presidente da Administração Regional de Saúde, convidado a intervir pelo presidente da Câmara, lembrou que a região está com excelentes resultados em matéria de pandemia, que a delegada de saúde classificou mesmo como estando na cidade em "fase de resolução", mas que esse trabalho se esgota rapidamente se não houver cuidados. O responsável lembrou o que aconteceu em Itália, devido a um jogo de futebol que juntou milhares de adeptos que se deslocaram e espalharam o vírus e para os riscos de uma segunda onda da doença no Norte. Informou também que, naquele dia, dos 19 casos encontrados no Norte do país, 10 tinham sido importados de Lisboa e um era um viajante que chegou do Brasil.

No dia em que o Porto assinalou o quarto dia consecutivo sem qualquer caso, os conselheiros foram unânimes a elogiar o trabalho desenvolvido pela Câmara do Porto no ataque à pandemia, mas todos corroboraram que não há condições para a realização de festas e para que muita gente se junte em segurança no São João.

NOITE DE SÃO JOÃO SEM TRANSPORTES E SEM RUAS CORTADAS NO PORTO

Rui Moreira colocou à consideração da sala temas como transportes, festejos e cortes de ruas para a noite de São João e a resposta foi clara. Nenhum dos conselheiros entende que o Município deva promover ações que facilitem a festa e pediram mesmo que a comunicação da Câmara, também elogiada, usasse de todos os meios para desincentivar ajuntamentos.

Assim, na noite de São João não haverá transportes, não haverá música nas ruas que estarão a funcionar normalmente, mas como fiscalização e policiamento reforçados. Rui Moreira lembrou contudo que o país não estará, em princípio, em estado de emergência e que não possui poderes para proibir que as pessoas se juntem em casa ou circulem nas ruas. O apelo é, pois, para que as sardinhas sejam comidas em família e que não se estrague, numa noite, o admirável exemplo de civismo que os portuenses têm dado ao país.

"Hoje não estamos em estado de emergência e esperamos não estar no dia 23 de junho. Mas sendo assim não podemos impedir as pessoas de circular e não podemos tentar impor medidas que as pessoas não cumprem e que não podemos obrigá-las a cumprir", explicou.

AEROPORTO, FRONTEIRAS E MAUS EXEMPLOS

O presidente da Câmara do Porto deixou, na reunião, algumas críticas à forma como a pandemia foi atacada no início, sobretudo porque tardaram medidas nas fronteiras e aeroportos. Mas também disse não entender a comunicação que por vezes é feita ao nível central que "está a transmitir sinais contraditórios".

"Não compreendo algumas medidas, que depois não têm correspondência noutros casos", disse Rui Moreira lembrando as recentes manifestações ou espetáculos que têm decorrido na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde a incidência da doença é agora o maior problema. E criticou o que, durante meses, se disse sobre as máscaras, quando toda a evidência, há muitas décadas, era a de que a máscara é uma proteção importante.

"São estes sinais contraditórios que levam as pessoas a incumprir. Por isso, a nossa comunicação tem de ser muito clara", referiu, alertando que também a comunicação social tem sido "muito acrítica" nestes tempos de pandemia.