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Rui Moreira sobre a TAP: tem de se acabar com a ilusão de que recebe 1.000 milhões de euros do Estado e mantém a gestão privada

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O presidente da Câmara do Porto afirma que é preciso desfazer a "ilusão que tem sido dada aos administradores da TAP, de que é possível entrar com 1.000 milhões do Estado Português a fundo perdido, sem que o Estado tenha nada a dizer" sobre as decisões estratégicas da empresa, que no plano de retoma dos voos condena o Porto e a Região Norte a novo confinamento. Rui Moreira, que falava esta manhã ao Fórum TSF, considera que "o Governo não tem mão na TAP" e que, neste momento, o Estado tem de assumir uma de duas posições: ou entra com capital que garanta maioria e manda na TAP, "ou mais vale deixar que os administradores dos acionistas privados decidam o futuro da companhia aérea, sem o envolvimento do Estado Português".

"O país tem de retomar a atividade a uma só velocidade", diz Rui Moreira, que não compreende como uma empresa de gestão privada não acredita nesta dimensão. Em julho, a Ryanair retoma a partir do Aeroporto Francisco Sá Carneiro 45 rotas, entre as 79 ligações asseguradas por transportadoras aéreas estrangeiras, por contraste às quatro rotas anunciadas pela TAP, avança hoje o JN.

Para o presidente da Câmara do Porto, a TAP quer continuar a ter o melhor dos dois mundos: "parece querer ser privada para tomar decisões e parece querer ser pública quando precisa que todos nós entremos com os nossos recursos e impostos para se manter à tona, porque há muitos anos não tem boa saúde", disse em entrevista ao jornalista Manuel Acácio (pode ouvir AQUI).

O autarca apela por isso ao Governo para acabar com esta "ilusão", porque a TAP "acredita que por questões inerentes à sua gestão pode recorrer a 1.000 milhões de euros a fundo perdido [do Estado], que custam mais ou menos 100 euros a cada português". Mais ainda quando decide, unilateralmente, um plano de retoma que se concentra em Lisboa, excluindo não só o Porto e a Região Norte, como também o Algarve, os Açores e a Madeira, exemplificou.

Com 50% de participação na empresa, o Estado Português não tem assento na comissão executiva e Rui Moreira recorda que quando essa decisão foi tomada, há quatro anos, avisou que "era um erro".

Num período especialmente crítico para todo o setor da aviação, o presidente da Câmara do Porto deu como exemplo o que se passou na Alemanha, com o governo de Merkel a injetar dinheiro na companhia área privada Lufthansa, mas a exigir como contrapartida a participação na estratégia da empresa.

O mesmo deveria suceder com a TAP, indica Rui Moreira. "Não podemos é ter esta mistura terrível e explosiva, em que ao mesmo tempo depende do erário publico e em que o Governo é incapaz de tomar decisões", declara.

Nessa medida, o presidente da Câmara do Porto insta o Governo a tomar uma de duas posições: ou injeta dinheiro público e participa nas decisões estratégicas da TAP ou deixa que os administradores tomem as decisões sobre o futuro da empresa, mas sem o envolvimento do Estado Português.

"Precisamos é de voos", acrescentou o autarca, reforçando a forte aposta da Ryanair e de outras companhias no Aeroporto do Porto, que serve cerca de 5 milhões de pessoas, entre a região do Porto e Norte, o norte Centro de Portugal, e ainda a Galiza, no norte de Espanha. "Não podemos é ficar sem voos para as nossas indústrias exportadoras, emigrantes e turistas", assinalou Rui Moreira.

A relação tensa da TAP com o Aeroporto do Porto é antiga. Depois de há quatro anos, ainda sob a administração de Fernando Pinto, a empresa ter justificado o desinvestimento "porque não havia mercado", regressou ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro pouco tempo depois por "oportunismo", quando companhias de bandeira estrangeiras, como a United Airlines, aproveitavam esse espaço livre reforçando as operações de e para o Porto.

Recorde-se que as críticas a este anunciado plano de retoma da TAP subiram ontem de tom numa conferência de imprensa que juntou um conjunto de autarcas, entre os quais Rui Moreira, e ainda o presidente do Turismo do Porto e Norte, Luís Pedro Martins.

Depois disso, também o Presidente da República e o Primeiro-Ministro vieram publicamente pronunciar-se sobre os planos de retoma da companhia de bandeira portuguesa, manifestando a sua "preocupação" e dizendo que o plano "não tem credibilidade", respetivamente.