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Rui Moreira nota que "a mensagem da Revolução Liberal continua a ser muito atual 200 anos depois"

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O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, sublinhou nesta segunda-feira que, dois séculos depois, a mensagem que impulsionou o derrube do absolutismo continua a ser muito atual. Em entrevista ao Jornal da Tarde da RTP, emitido em direto da Praça da República, no Porto, o autarca salientou ainda que o ADN das gentes da Invicta e o seu caráter de "cidade irrequieta" criaram as condições ideais para o movimento ser bem-sucedido.

Em 1820 o Porto "agregava muita gente que tinha vindo da província durante as guerras napoleónicas e manifestava o seu descontentamento. Era aqui que chegava a imprensa ilegal, de Inglaterra e também de Espanha, onde tinha havido um golpe de estado. E em Lisboa as coisas correram mal com Gomes Freire de Andrade, que três anos antes tinha sido executado por ter tentado essa revolta", elencou Rui Moreira.

Esta conjuntura favoreceu a criação do Sinédrio: "O hábito das tertúlias esteve no início do movimento. Na Rua das Flores havia grandes livrarias onde as pessoas trocavam coisas que em Lisboa eram ilegais. Coisas que em Lisboa a censura conseguia apanhar, e aqui não conseguia". E, assim, um grupo de pessoas de classe social elevada começou a trabalhar para a mudança. "Eram juristas, mercadores, que se começaram a juntar e depois começaram a fazer os seus contactos com as forças armadas, com o exército, que acaba por fazer a proclamação e a revolução, que se inicia no Porto e depois se estende rapidamente a todo o país", acrescentou o autarca.

"Ainda hoje o Porto é muito a cidade da liberdade. Por isso D. Pedro nos deixou o seu coração, em homenagem a essa força da sociedade portuense", notou Rui Moreira, que num artigo de opinião na edição de sábado do Diário de Notícias já tinha evocado a "tradição liberal" da cidade Invicta e a capacidade das suas gentes para "fazer diferente".

Na entrevista à RTP, o presidente da Câmara do Porto reconheceu ainda que, "200 anos depois, a mensagem da Revolução Liberal continua a ser muito atual".

"Muitas vezes o absolutismo, o antigo regime, esteve presente e tentou abafar a liberdade. Essa é uma luta constante daqueles que acreditam que o poder deve estar na mão de todos. A liberdade é uma flor muito frágil. Não é da natureza humana viver em liberdade. Se pensarmos na história da Humanidade, foram muito poucos os tempos em que vivemos em liberdade. Por isso mesmo, é preciso termos ação cívica, é preciso as pessoas participarem, irem às eleições e votarem, é preciso as pessoas discutirem e reclamarem quando entendem que devem reclamar", vincou.

"Dizer as coisas como elas são"

Essa liberdade para manifestar descontentamento está associada à necessidade de um "discurso político diferenciado", considerou Rui Moreira, lamentando que estejamos a viver um tempo "em que parece quase que as pessoas não podem dizer o que lhes vai na alma".

"Há um sentimento mais ou menos instalado que as pessoas têm que dizer aquilo que é politicamente correto. Isso acaba por coartar a liberdade das pessoas que intervêm. A intervenção pública deve ser livre, não tem que nos agradar sempre. O presidente da Câmara não tem de dizer sempre coisas de que os cidadãos gostam, como o Primeiro-Ministro ou o Presidente da República. Nós todos temos de ser capazes de dizer aquilo que nos vai na alma, com a prudência necessária, sem acirrar ânimos, mas dizer as coisas como elas são", sublinhou o presidente da Câmara do Porto.

Rui Moreira aproveitou para reiterar que nunca pediu dinheiro à Assembleia da República para as comemorações dos 200 anos da Revolução Liberal, apenas fez um convite ao órgão de soberania para associar-se à programação levada a cabo pelo município, lembrando que, apesar da pandemia, a Invicta não baixou os braços na homenagem ao duplo centenário do 24 de Agosto. "Fizemos uma exposição, estamos a lançar um livro prefaciado pelo senhor Presidente da República, que vai ser apresentado no dia 28. A Feira do Livro vai ter muitos debates sobre esta matéria", recordou.

Relativamente à ideia para um monumento de homenagem aos impulsionadores da Revolução Liberal, Rui Moreira concordou que "é preciso de facto fazer um grande monumento àqueles que participaram, que foram o motor disto. Pessoas como Ferreira Borges, um homem absolutamente notável para a cidade do Porto". E deixou uma ideia para a localização deste memorial: "Gostaria que um dia fosse feito. Talvez na Marginal, ou na Foz, que era onde se juntava o Sinédrio. As forças armadas têm aqui [na Praça da República] o quartel fantástico, a grande celebração desse momento de liberdade que ocorreu aqui exatamente há 200 anos", concluiu.