Cultura

Quintas de Leitura festejam 18 anos de ação poética

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Uma chuva de estrelas literária passou pelo Teatro Municipal do Porto - Campo Alegre, para a sessão comemorativa dos 18 anos do ciclo Quintas de Leitura. A "culpa" foi de várias figuras públicas portuguesas que aceitaram o desafio do programador João Gesta e escolheram um poema que, para elas, tenha resistido à corrosão do tempo e as continue a emocionar.

Sessão após sessão é também essa a força motriz das "Quintas de Leitura": emocionar e surpreender. Talvez seja isso que explique o segredo da longevidade de um ciclo literário que atingiu agora a maioridade, com um público fiel e novos rostos que, todos os meses, se "convertem" à poesia e à liberdade de expressão que dela emana.

Algo assinalado na intervenção de Pedro Mexia, que destacou a importância da iniciativa na ação cultural da cidade do Porto, não só por congregar seguidores que se revêm nas emoções e naquilo que dizem os poemas ("é isto mesmo"), mas também por dar palco aos "poetas contemporâneos", que, como dizia Manuel António Pina, são igualmente produto do mundo e do tempo em que vivem, evocou o também poeta, cronista e crítico literário de Lisboa.

Para este encontro especial, 37 personalidades contactadas por João Gesta "acharam graça ao desafio e enviaram as suas escolhas", selecionando, cada uma, um poema. O Primeiro-Ministro, António Costa, elegeu "Índia", de Jorge Sousa Braga; a Ministra da Cultura, Graça Fonseca, dedicou "Poema", de Sophia de Mello Breyner Andresen; o Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, escolheu "Pela Luz dos Olhos Teus", de Vinicius de Moraes; o diretor artístico do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, selecionou "17", de António Franco Alexandre; Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, assinalou "Poema sobre a Recusa", de Maria Teresa Horta; Pedro Abrunhosa propôs "Devia Morrer-se de Outra Maneira", de José Gomes Ferreira; Rui Reininho sugeriu "Mário Cesariny"; Ana Zanatti, "A Defesa do Poeta", de Natália Correia; entre outros.

O resultado foi partilhado em palco com as leituras das atrizes Carla Bolito e Teresa Coutinho e ainda com José Anjos e Vítor Alves da Silva, que deram corpo à maior parte das escolhas, integralmente compiladas num livro distribuído gratuitamente ao público no final da sessão.

Já Miguel Pereira Leite, presidente da Assembleia Municipal do Porto, foi a única figura pública que levou o desafio mais longe e subiu ao palco do Teatro do Campo Alegre para dizer dois poemas: "Adeus" de Eugénio de Andrade (poema escolhido por José Luís Peixoto) e "O Guardador de Rebanhos", de Alberto Caeiro (escolhido por si).

"O maior cego é o que não quer ler"

Foi sob este mote que, antes, Afonso Cruz tinha aberto a sessão. O multifacetado escritor - colecionador de "estórias" e de mundo - focou a sua intervenção na importância da Cultura e da leitura na formação do ser humano. Ele, que recentemente viajou até Bagdade (Iraque), trouxe às Quintas de Leitura as estreitas ruas daquela cidade, que mesmo sob o fogo da guerra e da morte se organizaram para uma Feira de Livro que atrai um milhão de pessoas, anualmente.

Algo que, explicou, tem paralelo num provérbio árabe que diz: "os egípcios escrevem, os libaneses publicam e os iraquianos leem". Detalhes que escapam ao dito "mundo ocidental" e a quem fica de fora de um ciclo literário, que além de despertar para a poesia cultiva o conhecimento.

A sessão de celebração foi ainda pautada por momentos musicais protagonizados pelo pianista Raúl Costa, a dupla Raquel Ralha e Pedro Renato e Manel Cruz, regressado às Quintas de Leitura, desta vez a solo, depois de dois anos de ausência.