Cultura

Idosos protagonizam espetáculo em projeto de combate à solidão

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Um conjunto de idosos da cidade sobe, esta noite, ao palco do Teatro Campo Alegre para apresentar um espetáculo diferente. A partir das 21 horas, integrados no Festival Internacional de Marionetas do Porto, vão mostrar o trabalho realizado durante vários meses para potenciar o envelhecimento ativo, no âmbito da adesão do Município do Porto à Rede Mundial da Cidade Amiga das Pessoas Idosas. 

Se fosse um filme, talvez se chamasse "Esta cidade também é para velhos". Mas é um projeto de integração social e de realização pessoal assente num espetáculo de teatro com marionetas. Chama-se "Quem sou eu?" e vai muito além disso: são as memórias, as rugas que a vida lhes escreveu no corpo, que uma dúzia de pessoas com mais de 65 anos andou a aprender a contar para hoje partilhar com o público.

Na Casa da Brincadeira, na Quinta de Bonjóia, cada ensaio era uma surpreendente partilha de sorrisos que, no entanto, não afastavam a seriedade com que cada veterano da vida assume o seu papel, sob a orientação entusiástica de Isabel Barros, a encenadora que assume a direção artística do Teatro de Marionetas do Porto.

Partindo de estórias individuais, de episódios específicos e de trajetos de vida, cada um dos participantes foi compondo o seu personagem e os diálogos criaram um guião, ao ponto de o domínio da ficção ser indiferenciável do registo autobiográfico. "Eu sofri muito, muito", diz Emília exibindo um sorriso. Um paradoxal e largo sorriso que expressa sem margem para dúvidas o intenso prazer que sente por participar nesta procura de "Quem sou eu?".

As estórias sucedem-se, particulares mas partilhadas, por Belmira, por Aurélio e Francisco, Fátima e Adelaide, Conceição, Manuel e Saúl, por Eva, Albina e Hermínia, como constatou o "Porto." no ensaio a que assistiu também o vereador da Habitação e Coesão Social, Fernando Paulo.

Desde logo, é curioso o facto de este modelo de expressão artística ter sido inicialmente concebido - e concretizado - pelas Marionetas do Porto com o público infantil. No âmbito da adesão do Município do Porto à Rede Mundial de Cidades Amigas das Pessoas Idosas (iniciativa da Organização Mundial de Saúde que visa responder ao rápido envelhecimento das populações e criar ambientes urbanos que permitam às pessoas idosas uma maior participação cívica na sociedade), surgiu a possibilidade de adaptar o conceito também à chamada segunda infância.

Meio ano depois de esta experiência-piloto ter começado no território de Campanhã, a cidade tem hoje ocasião de ver os resultados do projeto que teve como principal objetivo trabalhar as "estórias" de vida desta população, fazendo-o através da expressão artística e servindo-se das marionetas como veículo de inclusão. O trabalho passou pelo desenho da marioneta, do figurino, escrita, modelação da marioneta, trabalho de voz/texto, técnicas de manipulação, trabalho físico e improvisação, na direção de um processo criativo, muito semelhante ao desenvolvido pela equipa de marionetas do Porto nas suas criações. E culmina hoje com esta apresentação no Festival Internacional de Marionetas do Porto.

Veja aqui uma das sessões de ensaio que permitiram chegar ao espetáculo desta noite: