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José Mário Branco: morreu uma grande e diferente "gota no oceano do grande caminho da Humanidade".

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Miguel Nogueira

Voz de abril, do Porto e da liberdade, José Mário Branco faleceu durante a noite passada, com 77 anos, na sequência de um acidente vascular cerebral.

Nascido no Porto e celebrizado como cantor e compositor de intervenção contra a ditadura, sendo uma das figuras ligadas à revolução de 25 de abril de 1974, José Mário Branco foi a personalidade homenageada pela Feira do Livro do Porto no ano passado, que assinalou os 50 anos de carreira do também letrista e produtor.
Face à homenagem, chamou a atenção para a ação individual em favor da comunidade e defendeu que "o que a gente faz é uma gota no oceano do grande caminho da Humanidade". 

A placa com o seu nome foi colocada numa das tílias dos Jardins do Palácio de Cristal, ao lado de Agustina Bessa-Luís, Vasco Graça-Moura, Mário Cláudio e Sophia de Mello Breyner Andresen, tornando-se assim o primeiro autor ali homenageado que não é estritamente do domínio das letras. Como apontou então o presidente da Câmara, Rui Moreira, tal escolha deveu-se ao facto de "ser um dos nomes mais importantes da música portuguesa do século XX, que acreditamos ser, paralelamente, um dos nomes mais relevantes da literatura nacional das últimas décadas", além de ser o Porto "a cidade que o viu nascer" e onde viveu a sua juventude.
 

Uma das vozes e figuras mais emblemáticas da nossa liberdade conquistada na revolução de 1974, e que mesmo censurada nunca deixou de escrever poesia e música quando foi urgente que soasse, José Mário Branco nasceu no Porto a 25 de maio de 1942. Cursou economia e história, depois de ter abandonado o estudo do violino, chamou ao seu primeiro LP um verso de Camões ("Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", 1971), foi perseguido pela PIDE e exilado político, interveio nos palcos da música, do teatro, da televisão e do cinema, desde cedo fez produção (fez arranjos em discos de Sérgio Godinho e José Afonso; os passos que ouvimos no início de "Grândola, Vila Morena" foram por ele gravados em Paris) e já maduro voltou à universidade para estudar linguística porque, como dizia o cantautor da inquietação, "a revolução é concretíssima se começarmos por fazê-la dentro de cada um de nós". 

Recorde-se que José Mário Branco decidiu, ainda no ano passado, abrir ao público o acesso online ao seu arquivo pessoal, de que constam mais de um milhar de documentos que ajudam a estudar o seu percurso artístico.