Cultura

Feira do Livro homenageia Leonor de Almeida e Maria de Sousa numa edição marcada pelo poder da palavra no feminino

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A partir do mote "Alegria para o fim do mundo", transcrito do livro de Andreia C. Faria, a edição de 2020 da Feira do Livro do Porto introduz várias novidades, transportando a aprendizagem da pandemia vivida nos últimos meses. Pela primeira vez, o espaço físico estende-se até à Casa do Roseiral, com concertos ao pôr do sol, e o Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota acolhe o ciclo de Debates e uma sessão especial das Quintas de Leitura. O poder da palavra no feminino, transversal em toda a estrutura programática, justifica duas homenageadas: a poeta Leonor de Almeida, personalidade ainda misteriosa para a generalidade do público, que verá o seu nome eternizado na Avenida das Tílias, e ainda a imunologista e também poeta Maria de Sousa, que faleceu recentemente vítima da Covid-19.

À deriva pela Avenida das Tílias, auriculares nos ouvidos, passos contemplativos, guiados por uma voz feminina que, sem pressas, narrou uma programação de valorização da língua portuguesa e dos poetas, escritores e artistas, com enfoque para os que trabalham no Porto ou a partir da cidade. Assim começou a partilha, esta manhã, com a comunicação social, dos principais destaques do programa da Feira do Livro do Porto 2020 que, este ano, devido à crise sanitária causada pelo novo coronavírus, terá as entradas e saídas controladas, de modo a não ultrapassar o limite de 3.500 pessoas.

A nova edição, que volta a ocupar os Jardins do Palácio de Cristal, entre 28 de agosto e 13 de setembro, parte do mote "Alegria para o fim do mundo", de uma das escritoras residentes, e tem como fio condutor a potência da escrita e das vozes no feminino.

Leonor de Almeida é a poeta homenageada, e Rui Moreira, que sumarizou as grandes linhas programáticas à imprensa na Casa do Roseiral, entende que esta é uma oportunidade para, com justiça, transportar o nome da escritora para o conhecimento do público. Nascida no Porto em 1909, foi autora de quatro livros de poemas, editados entre 1947 e 1960, todos esgotados.

"Vamos tentar redescobrir uma poeta que foi remetida para uma certa invisibilidade no contexto literário português", referiu o presidente da Câmara do Porto, sinalizando o trabalho de investigação de Cláudia Clemente em torno da sua obra e biografia, que surge na antologia da literatura erótica e satírica de Natália Correia.

De igual justiça, o reconhecimento a Maria de Sousa, que "para além de ser uma extraordinária imunologista e cientista, também nos deixou um legado de poesia", assinalou o autarca, recordando que a homenageada foi um dos rostos visíveis das vítimas da pandemia.

Linhas gerais programáticas

Lições, conversas, palavra soprada, rádio, cinema, concertos, oficinas e espetáculos constituem os pontos nevrálgicos da programação da grande festa do livro que, este ano, dá mais passos para novos espaços nos Jardins do Palácio de Cristal e estende-se até ao terreiro exterior da Casa do Roseiral, palco dos Concertos de Bolso, com programação dos Maus Hábitos. Esta é uma das novidades da edição e o objetivo dos concertos de final de tarde é o de reunir músicos de diferentes géneros e gerações, e assim esboçar um retrato do panorama musical na cidade. Os Baleia, Baleia, Baleia, Angélica Salvi ou Peixe são alguns dos nomes que subirão, diariamente, ao palco.

A "diversificação de espaços e a programação atividades simultâneas" foi, de resto, uma das preocupações centrais da Feira do Livro do Porto, que pretende igualmente incentivar "a atividade comercial" de um setor que tem sido muito penalizado pela pandemia, salientou Rui Moreira.

Nos 119 stands inscritos, que representam 80 entidades (entre livreiros, editoras, alfarrabistas, distribuidores, e entidades públicas ou privadas), estão garantidas medidas preventivas e de segurança, com a disponibilização de álcool gel e desinfetante. Também o Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto assegurará, amiúde, a limpeza especial do recinto.

O programa, sob a coordenação de Nuno Faria, diretor do Museu da Cidade, é ativado por uma vasta equipa de programação, onde se integra João Gesta, nas Quintas de Leitura e noutros programas de encontro e poesia. Ao Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota levará uma edição especial deste marcante ciclo de poesia, dando voz a 30 mulheres poetas, "relampejantes e insubmissas". Um verso de Filipa Leal, "Senhor, Enche o Meu Quarto de Alto Mar", dá o título à sessão.

Guilherme Blanc, diretor de Arte Contemporânea e Cinema da empresa municipal Ágora, que desenvolveu o ciclo de cinema, apresentará no auditório da Biblioteca Almeida Garrett uma antologia da obra de Lynn Hershman. Ao longo de cinco sessões, o público (limitado ao espaço definido para a sala), perceberá como - através da ficção, da linguagem documental e do ensaio - a obra da artista antecipou visualidades e conceitos que marcam práticas artísticas atuais.

A dupla de curadores convidados Anabela Mota Ribeiro e José Eduardo Agualusa regressa com a programação das Lições e Debates. As Lições vão debruçar-se sobre heroínas da ficção a partir da interpretação e análise de cinco convidadas, entre elas Bovary ou Karenina. Já os debates contarão com a participação de Gonçalo M. Tavares, Richard Zimler ou Sobrinho Simões, entre outros convidados sonantes.

Durante o evento, serão lançadas duas edições. A primeira, reúne numa só obra, a poesia da homenageada Leonor de Almeida. Já a segunda edição, é dedicada ao livro "1820-2020", que assinala o bicentenário da Revolução Liberal do Porto.

Nesta edição, a Câmara do Porto investe 125 mil euros, mais 25 mil euros comparativamente ao ano passado. 

Concertos da Porta-Jazz ao relento, ecos da Biblioteca Sonora, rádio com transmissões em direto, duas poetas residentes, um programa infanto-juvenil, entre outros atrativos, como um concerto de encerramento com Mário Laginha e Pedro Burmester, compõem ainda o programa da Feira do Livro do Porto 2020, a sétima edição organizada pela Câmara do Porto nos Jardins do Palácio de Cristal.