Cultura

Espetáculo sobre texto de Marguerite Duras foca o medo de afirmação na vida

  • Notícia

    Notícia

"A Fera da Selva" é o espetáculo que Miguel Loureiro apresenta no Rivoli, nestes sexta-feira e sábado, a partir de um texto de Marguerite Duras e interpretado por Margarida Marinho e Filipe Duarte.

Com apresentações às 21 horas (sexta) e 19 horas (sábado), esta é uma peça sobre "o medo de afirmar coisas na vida": a história de um affair entre John Marcher (Filipe Duarte) e May Bartram (Margarida Marinho), mas sobretudo entre o público, que assiste, e eles, que adiam a vida.

Dois atores para duas personagens em décor sóbrio, indefinido, talvez intemporal.
Explicam-nos o mundo, como Marguerite Duras costuma explicar, explicam-nos a impotência perante esse mundo, perante o amor que adiam, perante o medo que pressentem na fera que espreita, sensação que domina John, a catástrofe eminente, que os arrastará para o fim. 

"A fera na selva" ("The beast in the jungle"), escrito por Henry James, em 1903, foi o ponto de partida para a autora francesa Marguerite Duras fazer uma primeira versão da peça homónima, em 1961, à qual regressou em 1983 para estabelecer o texto que agora foi trabalhado por Miguel Loureiro.

O encenador explica que "esta é uma peça introspetiva, de alguém que se sente assustado porque não tem atividade na vida, profissional ou pessoal. São dois aristocratas, um homem e uma mulher: o homem está paralisado de medo porque acha que há uma grande catástrofe à espera dele, e isso impede-o de viver; a personagem feminina solidariza-se com ele, e o tempo passa. Entre distrações, ficam velhos e morrem. A fera nunca salta para fora da selva e nada acontece, realmente".


Miguel Loureiro sublinha ainda que "é uma peça sobre o impasse e o medo de afirmar as coisas na vida." 

A partir da tradução de João Paulo Esteves da Silva, o encenador trabalhou a peça, onde o seu principal interesse era o de "explorar a história do teatro, de onde vem, as questões do texto, quando se estabelece a cena ou não, quando existe teatro ou deixa de existir. Há, no entanto, uma coisa que nunca pode escurecer: o amor pelo texto, porque o teatro é ainda muito ligado à literatura, àquela que é pensada para o palco".

Conclui Miguel Loureiro que "este espetáculo é misterioso; tem um enigma, sem qualquer linha de projeção do meu pensamento político, económico ou social", até porque isso não lhe interessa, mas sim "lidar com mistérios e enigmas".

No âmbito do espetáculo, está programada para as 10,30 horas de sexta-feira uma masterclass com o encenador, que tem depois uma conversa pós-espetáculo com o jornalista André Correia, pelas 22,15 horas.

Mais informações e bilhetes AQUI.