Urbanismo

Edifício histórico do antigo Hotel do Louvre vai ter obras de reabilitação

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O edifício que remonta ao século XIX, e onde esteve instalado o Hotel do Louvre, vai ter uma nova vida, com obras de reabilitação que vão equipá-lo com apartamentos para habitação.

É um pedaço de história do Porto que recupera o seu esplendor. Situado no cruzamento da Rua do Rosário com a Rua de Dom Manuel II, junto ao Museu Soares dos Reis e ao Hospital de Santo António, o imóvel histórico vai ser alvo de obras. Já ali funcionou um hotel de luxo, onde estiveram alojados imperadores, e também foi a sede de várias entidades da cidade. Mais recentemente, albergou a Escola de Condução "A Desportiva", até cair numa situação de abandono que durava há vários anos.

O estado atual do edifício não reflete a aura de sumptuosidade do passado, embora ainda lá continue a placa que assinala a visita dos imperadores do Brasil ao Hotel do Louvre, em 1872, colocada pela Câmara do Porto no centenário da ocasião, em 1972.

A passagem do imperador do Brasil, D. Pedro II, pelo histórico hotel está na origem de um curioso episódio recordado pelo jornalista e autor de vários livros de história da cidade do Porto, Germano Silva, numa crónica publicada em 2016 na revista Visão.

"Nos fins de Fevereiro de 1872, D. Maria Henriqueta recebeu no seu hotel um hóspede muito especial: o imperador do Brasil D. Pedro II, filho do nosso rei D. Pedro IV que veio em visita particular e, por isso, viajava incógnito, sob o título de duque de Alcântara. Com ele veio a mulher, D. Teresa Cristina Maria e uma pequena comitiva composta por sete individualidades muito próximas do imperial casal e mais dez criados", escreveu Germano Silva, explicando que o pretexto da viagem era a visita ao Palácio de Cristal original, que havia sido inaugurado sete anos antes (foi demolido em 1951 para dar lugar ao atual Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota).

Mas a estadia teve um desfecho inesperado. "No último dia da hospedagem a hoteleira apresentou a conta a Nicolau António do Vale da Gama, mordomo da casa real brasileira. Totalizava 4.500$00 reis. Submetida à aprovação do imperador este ordenou ao seu mordomo que não pagasse a fatura por achar exagerada a quantia pedida. Mais, incumbiu Manuel José Rebelo, ao cônsul do Brasil no Porto, de apresentar uma queixa em tribunal contra a dona do hotel que acusou de especulação indevida", recordou Germano Silva.

A questão correu nos tribunais até que, cinco anos mais tarde, a sentença deu razão D. Maria Henriqueta. "Com o parecer favorável do tribunal a hoteleira dirigiu-se ao consulado do Brasil, no Porto, a exigir o pagamento da conta em atraso. Mas o cônsul não pagou. Perante esta recusa a hoteleira tomou uma resolução, no mínimo arrojada: ir ao Brasil para exigir do próprio imperador o pagamento da conta. E foi. Só que no Brasil novas dificuldades surgiram e a mais complicada era a que impossibilitava D. Maria Henriqueta de se aproximar da pessoa do imperador. Constatando que pela via do entendimento não conseguia alcançar os seus objetivos, a hoteleira começou a usar a praça pública para chamar a atenção para o caso que a levara até ao Rio de Janeiro. Os jornais viram no assunto matéria de interesse público e, a breve trecho, a situação começou a atingir foros de escândalo", acrescentou Germano Silva, concluindo que a situação foi resolvida por "dois portugueses endinheirados que residiam no Rio", que tomaram a iniciativa de saldar a dívida e ainda pagaram a D. Maria Henriqueta a viagem de regresso a Portugal.

São memórias dos tempos de glória de um edifício histórico do Porto. Em breve, o antigo Hotel do Louvre vai ter uma nova vida. Os serviços de Urbanismo da Câmara do Porto aprovaram a intervenção, com alvará de obra já emitido, que vai dotar o edifício de espaços para comércio, serviços e habitação, e será levada a cabo pela FL - Engenharia e Construção.