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Complexidade do restauro do Mercado do Bolhão compromete conclusão da obra em cerca de um ano

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O presidente da Câmara do Porto reuniu esta tarde com os comerciantes do Bolhão para os informar que a obra de restauro do Mercado do Bolhão está atrasada em cerca de um ano. Os motivos que levam a este novo calendário são dois: os níveis freáticos do terreno onde o edifício foi construído continuam a ser mais elevados do que aquilo que se pensou ser tecnicamente possível e o estado de degradação das galerias superiores é bastante mais grave do que era possível apurar a partir dos estudos preliminares. Em nada este atraso é causado pela obra do túnel do Bolhão, estando estimada a reabertura ao trânsito pedonal na Rua Formosa já em fevereiro de 2020.

Importava, em primeiro lugar, conversar com os comerciantes e dar-lhes a notícia em primeira mão. Foi esse o entendimento de Rui Moreira ao convocar, para o início da tarde desta sexta-feira, uma reunião no Mercado Temporário do Bolhão, que foi altamente participada.

"Antes de falarmos com a comunicação social, era minha obrigação falar convosco, por respeito e com base na confiança mútua que construímos", disse o presidente da Câmara do Porto que, pouco depois, na conferência de imprensa que deu nos Paços do Concelho, disse à comunicação social que os "comerciantes não ficaram surpreendidos" com o anúncio do atraso da obra e "até pensavam que seria maior".

No entanto, descreveu Rui Moreira aos jornalistas, os comerciantes reclamaram mais apoio da cidade durante o tempo que ainda lhes resta no Mercado Temporário do Bolhão, e do autarca levaram a garantia de que a dinamização do espaço vai continuar e que estava inclusive disponível para acolher mais sugestões e ideias nesse sentido.

Em 100 anos o Bolhão nunca recebeu obras de fundo

A obra de restauro do Bolhão é complexa e as vicissitudes encontradas no curso dos trabalhos levam a que o prazo da conclusão da empreitada se estenda por mais um ano, admitiu hoje Rui Moreira. Desde logo, pelo trabalho "de relojoaria" que a mesma implica. "Trata-se não de construir, mas de reconstruir" o Mercado do Bolhão, constatou.

O edifício "aterrou" há 100 anos sobre "um pântano" a que se dava o nome de "Bolhão" e existem inclusive registos e relatos "de que as torções e danos nas paredes e estruturas do edifício datam da sua construção", contextualizou Rui Moreira, secundado pela vereadora Catarina Araújo, que preside à GO Porto e aos administradores da empresa municipal. 

Desde então, o centenário edifício nunca recebeu qualquer intervenção de fundo, embora "pelo menos desde os anos 80" estivesse identificado como necessitando de obras urgentes. "Urgentes, mas nunca realizadas, nem durante 100 anos, nem durante as quase quatro décadas que se seguiram", vincou o presidente da Câmara.

Ora, tendo em conta "as circunstâncias particulares" desta obra, quer do ponto de vista das evidências históricas quer no tocante à "experiência internacional em intervenções em património classificado - que têm ocorrido em edifícios centenários em todo o Mundo e onde condicionantes semelhantes são conhecidas" - o autarca anunciou que "depois de apuradas e sedimentadas do ponto de vista técnico todas as circunstâncias, a obra do Mercado do Bolhão não irá durar os 24 meses previstos no concurso, mas será prolongada por mais 50% do tempo".

Quais são as duas circunstâncias particulares que obrigam ao atraso da obra

Em primeiro, disse Rui Moreira, apesar de ter sido feita uma obra do desvio do curso de água, antes das máquinas entrarem no interior do Bolhão, "os níveis freáticos do terreno continuam a ser mais elevados do que aquilo que se pensou ser tecnicamente possível". Essa circunstância, ou seja, as condições do terreno "levaram o consórcio que está a executar a obra a ter especiais cautelas na abordagem que preparou para essa zona fundamental ao funcionamento do mercado. Sem cave, o mercado não teria condições modernas de salubridade e higiene alimentar que hoje lhe são exigidas", observou.

Por outro lado, continuou o autarca, "verificou-se que o estado de degradação das galerias superiores era, afinal, bastante mais grave do que era possível apurar a partir dos estudos preliminares".

Face a esta dupla circunstância - solo diferente e ainda mais instável e galerias mais degradadas - Rui Moreira disse que a equipa de projetistas e construtiva teve de reformular a abordagem ao método construtivo inicialmente previsto. "Por razões de segurança, é aconselhável um método construtivo diferente na contenção e construção da cave", avançou o presidente da Câmara, admitindo que, "simultaneamente, a necessidade de reconstruir a totalidade da galeria abre também espaço para que esse novo método construtivo alternativo para a cave possa ser aplicado de forma mais célere e com maior facilidade de execução".

Por outras palavras, "caso as galerias se mantivessem intactas durante toda a obra, como inicialmente previsto, a abordagem que agora se propõe seria impossível". Além disso, a construção da cave seria mais morosa, menos segura e mais cara, "atirando a conclusão do restauro para dezembro de 2021", estimou o presidente da Câmara do Porto.

Projeto e preservação da traça do edifício mantêm-se inalterados

A obra de restauro e modernização do Mercado do Bolhão iniciou em maio de 2018 e em torno dela gerou-se um raro consenso político. Depois de muitos projetos fracassados e rejeitados pela cidade, direita e esquerda aprovaram o projeto de Rui Moreira, que preserva a identidade do histórico edifício, os seus comerciantes e, quando o Bolhão reabrir reabilitado, será o mercado de frescos que sempre foi. Entretanto, a maioria dos comerciantes continua a trabalhar a cerca de 200 passos do equipamento municipal, no Mercado Temporário do Bolhão, equipado pela Câmara com todas as condições de segurança e higiene que antes nenhum dos negócios tinha.

A reformulação do método construtivo da obra do Bolhão não coloca em causa o projeto traçado que - no seu "âmago, finalidade e resultado final" - mantém-se inalterado. Como reforçou o autarca, "a preservação da traça do edifício e das suas conhecidas características não sofre qualquer alteração". Mas, se fosse mantido o método construtivo inicialmente previsto, tanto os prazos como o preço final da empreitada ficariam ainda mais comprometidos,

Obra de construção do túnel decorre com normalidade

Se no interior do edifício do Bolhão a realidade é esta, Rui Moreira informou ainda que em nada ela colide com a obra de construção do túnel de acesso à cave, que está a ser realizada em empreitada autónoma. "Não sofreu, desde a sua adjudicação, qualquer atraso", confirmou o autarca, afiançando que, por estar a cumprir os prazos previstos e "comunicados atempadamente a todos os comerciantes", o trânsito pedonal será retomado na Rua Formosa em fevereiro próximo e a circulação automóvel reposta em setembro de 2020.