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Caixa com histórias do Coliseu conta batalhas coletivas pela Cultura

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Eduardo Paz Barroso, Pedro Abrunhosa e Rui Moreira evocaram ontem as histórias de 75 anos do Coliseu, o seu entrelaçamento com a História da própria cidade do Porto, as lutas entre o Poder e a Cultura, o papel dos líderes e figuras públicas das artes, da política, da economia. Deixando subjacente a ideia de que a Cultura está sempre ameaçada, tudo isso veio a propósito do lançamento do catálogo da exposição "O Coliseu e a cidade: 75 anos de Histórias", que ontem mesmo chegou ao fim, nos Paços do Concelho. 

Não por acaso, a sessão, aberta ao público, realizou-se ontem por ser 31 de janeiro. Caía a noite na cidade, mas a História do Porto dos últimos 75 anos ficou profundamente iluminada com as palavras dos três protagonistas da cerimónia. Desde logo com Eduardo Paz Barroso, presidente do Coliseu, a chamar a atenção para a conceção artística do objeto em lançamento, uma "caixa mágica" - como lhe chamou - que encerra importantes memórias coletivas. E Paz Barroso evocou desde os homens de negócios que criaram a sala até ao público que lhe deu vida, incluindo "os espectadores que já cá não estão...". Mas também os artistas.

Dois deles estavam presentes: Miguel Guedes (Bind Zero), coautor de textos do catálogo, e Pedro Abrunhosa, que fez a apresentação e foi, por minutos, o olhar dos portuenses sobre o passado, mas a pensar no futuro. Apontando que o catálogo celebra o Coliseu enquanto "soberba obra de modernismo, urbanismo, futuro, memória, cultura, conhecimento, saber", Abrunhosa sublinhou que "também ensina a História", nomeadamente a da eterna disputa entre o Poder e a Cultura.

O músico, que numa tarde de 1995 se acorrentou aos portões do Coliseu e ajudou a evitar a sua transformação em salão religioso, recordou a propósito as batalhas contra o Estado Novo empreendidas pelo arquiteto que desenhou o Coliseu Porto, Cassiano Branco, para reafirmar que "Somos todos Cassianos!". O seu objetivo foi apelar ao permanente empenho coletivo na defesa da sua identidade e dos seus valores, pois "se há estrutura humana que conta a história de um país é a cultura". E, nessa perspetiva, destacou o papel levado a cabo neste campo por Rui Moreira, desde que chegou à presidência da Câmara, em 2013. "Veio dar razão à luta que era travada nesta cidade em torno de um dos seus maiores valores que é a cultura", frisou.

Não obstante, essa é uma tarefa permanente, como diria o autarca, considerando importante ter consciência de que "um dia, durante a II Guerra Mundial, um senhor Carvalho resolveu que era possível fazer este projeto [o Coliseu]. E isso foi um ato de profunda cidadania".

Rui Moreira também lembrou o episódio de 1995 e "a nossa resistência quando tentaram adotar o Coliseu", acrescentando ser significativo "estarmos aqui hoje, 31 de janeiro, que é um dia de revolta". Mas - evidenciou - o Coliseu vai continuar a precisar de apoio para as obras de que necessita. "A batalha da cultura nunca está conquistada; está sempre em risco", disse o presidente da Câmara, reafirmando que "enquanto houver alguém a ligar a palavra subsídio à cultura, ela está debaixo de uma enorme ameaça".

Por isso, se muitas batalhas foram já travadas, Rui Moreira quer, como canta Pedro Abrunhosa, "fazer o que ainda não foi feito". Ou seja, "trabalhar hoje para que daqui a 75 anos o Coliseu continue a existir".

Catálogo-caixa, uma pequena obra de arte

Concebido como objeto de coleção, numerado e de tiragem limitada, o catálogo de "O Coliseu e a Cidade: 75 anos de histórias" é composto por vários elementos guardados numa caixa que, ao abrir-se, ganha a forma da sala do Coliseu fotografada por Alvão em 1941. Dentro, estão um livro, um álbum fotográfico e várias reproduções.

Ao álbum fotográfico pertencem 75 imagens antigas e contemporâneas do Coliseu, muitas delas raras. Entre as reproduções, estão um colorido póster de Carnaval de 1951, da autoria de Cruz Caldas, um cartaz institucional do Coliseu Porto 2015, um alçado de Cassiano Branco de 1939 e um esboço do candeeiro da sala desenhado por Mário Abreu em 1941.

O catálogo integra textos de Rui Moreira, Eduardo Paz Barroso e Miguel Guedes, do bibliotecário Luís Cabral, do designer Henrique Cayatte, do poeta e ensaísta Bernardo Pinto de Almeida e do radialista Álvaro Costa.

À venda na bilheteira e na loja do Coliseu (pvp 50€), o catálogo é a peça que assinala a exposição "O Coliseu e a Cidade: 75 anos de histórias", a qual, por sua vez, assinalou o encerramento das comemorações dos 75 anos de vida da maior sala de espetáculos da cidade.