Cultura

Leonor de Almeida, a poeta que ousou, figura agora na Avenida das Tílias

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Leonor de Almeida, cuja obra permanecia até agora na penumbra dos tempos, foi resgatada pela homenagem que o presidente da Câmara, Rui Moreira e a escritora e realizadora Cláudia Clemente, concretizaram esta tarde, na Avenida das Tílias, com o descerrar da placa de atribuição formal de uma tília à escritora nascida no Porto em 1909. 

"Tal como a Tília, que, segundo os Germânicos, era considerada uma árvore sagrada com propriedades mágicas e raízes profundas, também a Leonor tinha raízes profundas que a agarravam a esta cidade, ao Porto".

Não pode, pois, ser mais apropriado que a atribuição da Tília da edição de 2020 da Feira do Livro do Porto homenageie Leonor de Almeida, a "poeta misteriosa", como muitas vezes é descrita, e que como salientou Cláudia Clemente, durante a cerimónia, "é uma homenagem mais do que merecida", especialmente quando o propósito maior é homenagear a escrita no feminino, celebrando "a escrita e a liberdade, tal como prefaciado por Rui Moreira no Jornal da programação da FLP 2020".

Esta homenagem confere a Leonor de Almeida, "a poeta esquecida, cuja obra esteve de certo modo hibernada, à semelhança das Tílias", o devido lugar como símbolo perene das artes e Letras da cidade do Porto, ao lado de ilustres nomes que a acompanham na Avenida das Tílias, também designada Avenida dos Escritores, nomeadamente Vasco Graça-Moura, Agustina Bessa-Luís, Mário Cláudio, José Mário Branco, Eduardo Lourenço ou Sophia de Mello Breyner Andresen.

"Ela nasceu no Porto, viveu no Porto, até aos 52 anos, por diversas razões foi obrigada a sair, mas regressou sempre ao Porto. Viveu na Dinamarca, viveu em Paris, em Londres, mas regressou sempre [ao Porto] ", como referiu Cláudia Clemente, acrescentando que tal como uma Tília precisa de espaço para crescer, também a poeta e escritora Leonor de Almeida precisava de espaço, para crescer.

"O epíteto de guerreiro desta mulher à frente do seu tempo é mais do que merecido, a esta mulher que ousou estudar depois de ter casado e de ter sido mãe, que ousou divorciar-se e que ousou voltar a casar; que ousou viajar sozinha por onde quis, num tempo (Estado Novo) em que esta possibilidade dependia de autorização da figura masculina", enfatizou Cláudia Clemente.

A mulher que "ousou trabalhar até morrer para se sustentar, que foi enfermeira, esteticista e poetisa", explica Cláudia Clemente, terá a sua memória "bem protegida na Avenida das Tílias".

"Queria terminar por dizer "bem-haja", expressão muito utilizada pela Leonor na sua obra e nas suas correspondências, "bem-haja" senhor Presidente, Dr Rui Moreira, por esta escolha, bem-haja pelo resgate de uma poeta esquecida, bem-haja por esta homenagem", concluiu Cláudia Clemente.

Rui Moreira por sua vez, evocou a memória de Leonor de Almeida com uma mensagem de "coragem, resiliência e sabedoria", que se seguiram a "dias de sombra e incerteza" e aos quais a Invicta soube responder, "de portas escancaradas ao canto dos pássaros, à magia do livro e ao fulgor da Palavra dos nossos escritores", nos Jardins do Palácio de Cristal.

O presidente da Câmara do Porto salientou que se "batiza hoje, nesta avenida ao serviço do Sonho, mais uma tília com o nome da poeta homenageada, uma poeta nascida no Porto, uma personagem apaixonante e controversa para a sua época."

Rui Moreira sublinhou a obra relevante que "a poeta intensa, inquietante, fulminante, que no seu tempo foi sempre futuro", deixou como legado do seu pensamento.

Leonor de Almeida publicou quatro livros - "Caminhos Frios", "Luz do fim", "Rapto" e "Terceira Asa" -, obras escritas entre 1947 e 1960, agora reunidas, no âmbito da Feira do Livro do Porto, num volume intitulado "Na Curva Escura dos Cardos do Tempo (poesia reunida) ", prefaciado pela poeta Ana Luísa Amaral.

Como referido por Rui Moreira, "a sua poesia é um exercício de suprema resistência" e serve de ponto de partida à sessão de apresentação de duas obras, fruto da investigação da escritora e realizadora Cláudia Clemente sobre a escritora homenageada - "na Curva Escura dos Cardos do Tempo (Poesia Reunida) e "As Tatuagens de Luz" - que decorre no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett. 

Esta conversa, com início a partir das 18 horas e com acesso livre (limitado à lotação do Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett e de acordo com as normas de saúde pública emanadas pela DGS), servirá para conhecer e refletir sobre o percurso dessa poeta (quase) desconhecida do grande público, com moderação de Nuno Faria e os convidados Cláudia Clemente, Ana Luísa Amaral, Vladimiro Nunes e Ágata Pinho.


Todas as informações são permanentemente atualizadas no site oficial da Feira do Livro e no Facebook.

Consulte aqui a programação completa da Feira do Livro do Porto 2020.