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100 habitantes do Porto ajudam Rivoli a apagar as velas do 87.º aniversário

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O Teatro Rivoli celebra os seus 87 anos com dança, teatro, música, literatura, performance e uma festa até às 4 da manhã, no fim de semana, em que 100 habitantes do Porto ajudam a apagar as velas.

A história do Rivoli escreve-se através de momentos marcantes da vida do Porto. Desde os anos 30, quando a ópera e o teatro dominavam o panorama artístico da cidade e o som chegou ao cinema, que o Rivoli tem vindo a assumir um importante papel na vida e nos hábitos culturais dos portuenses, atravessando muitas gerações, contextos políticos sociais distintos, momentos bons e menos bons, alicerçado acima de tudo numa enorme capacidade de se renovar e reinventar.

Por isso, foi escolhido "100% Porto" como o mote para um aniversário que, pela primeira vez, é comemorado em dois dias (19 e 20 de janeiro, com entrada gratuita) e dá resposta à grande afluência de públicos que nos últimos anos tem vindo a comparecer a esta celebração.

Contando com 25 artistas do Porto, o programa evidencia a vitalidade e criatividade que se vive na cidade, através de espetáculos que cruzam dança, teatro, cinema, música, instalação e literatura. E que foram pensado para todos os públicos, dos 3 aos 100 anos

O arranque do fim de semana de festa é marcado por duas estreias:

- às 11,30 horas de sábado, no âmbito do Paralelo - Programa de Aproximação às Artes Performativas, o foyer do Grande Auditório recebe a apresentação de Valter Fernandes "(Entre)Laços" (com récita extra no domingo), em que o bailarino e coreógrafo se questiona sobre os movimentos, ações e emoções criadas pelos corpos que habitam este lugar e a forma como entrelaçam as suas vidas. "Se o corpo é um pequeno universo, o que dizer de uma cidade?"

- ao mesmo tempo, no Pequeno Auditório, é apresentado em estreia "A grande guerra do Patoá" (com récita extra no domingo) de Jorge Louraço Figueira & Rodrigo Santos, em colaboração com Pedro Alves, Ricardo Megre, Francisco Rua & Pedro Ferraz (Universidade Católica do Porto). Aqui, Jorge Louraço confessa fazer questão, sempre que vem ao Porto, de "usar as palavras certas para cada ocasião." Por exemplo, um chapéu-de-chuva não serve para nada aqui. Com a pluviosidade média mensal, às vezes nem um guarda-chuva serve, quanto mais um chapéu. O que é preciso é ter um chuço sempre à mão.

Também no sábado, mas ao início da tarde e uns pisos acima, há outra estreia. Às 14,30 horas, Tânia Dinis apresenta na Sala Ping-Pong "Bastidores" (com récita extra no domingo), parte da criação "Curva Ascendente" (2014), que explora o confronto da imagem com aqueles nela representados, neste caso o de Ermelinda, avó da autora, recorrendo a suportes e dispositivos de imagem associados ao universo afetivo familiar. Neste trabalho, Tânia Dinis prossegue o trabalho de revisitação das memórias através da imagem fotográfica, partindo do arquivo do Teatro Rivoli. É uma viagem pelo arquivo pessoal de antigos funcionários, vizinhos, artistas, amigos, com percursos de vida e histórias diferentes, proporcionando um pequeno momento familiar, uma reunião, um ensaio intimo agora partilhado de alguns fragmentos de história na vida de um teatro, que também é uma família.

Uns lanços de escadas ainda mais acima, na Sala de Ensaios, os Artistas Associados do Teatro Municipal do Porto (TMP) para as temporadas 17/18 e 18/19 cantam os parabéns ao Rivoli. Marco da Silva Ferreira e Jorge Andrade apresentam "Ensaio Lírico", feito em conjunto com os músicos Rui Lima e Sérgio Martins, numa performance que cruza a dança e o teatro com uma banda sonora pensada para este momento festivo.

Às 16,30 horas, Bruno Senune apresenta "A Deriva dos Olhos" (com récita extra no domingo), no Café Rivoli. Este trabalho é uma construção poética sobre o caos, a impotência, a destruição do desejo, o cansaço extremo e o caminho percorrido até uma possível metamorfose que permita a sobrevivência.

De volta ao Pequeno Auditório, pode-se assistir a "SØMA" (com récita extra no domingo) de Jonathan Uliel Saldanha. As filmagens de um tribunal afásico e estático são a partitura vídeo para uma sonoplastia gestual que se desenvolve numa temporalidade circunscrita a um sistema fechado, a partir de ações de inquérito a um objeto inerte. Para este trabalho, Jonathan colaborou com quatro adolescentes surdos que, em cena, traduzem um filme em gestos.

Às 18,30 horas, no Café Rivoli, o diretor artístico do TMP, Tiago Guedes, apresenta a nova agenda com a programação de março a julho de 2019.

Uma hora depois, há Literatura no Café Rivoli com a participação de Cristiana Sabino, Rui Spranger, Marco Oliveira, Renato Roque e Rui David, numa festa da Palavra, ao ritmo do pulsar da cidade - "O Porto pela voz dos seus Poetas".

Durante todo o dia, a partir das 11 horas, a instalação contínua de Flávio Rodrigues "Magma - No limite da selvajaria (esculturas cénicas)" (com récita extra no domingo) estará patente no foyer do Grande Auditório. "Violência, medo, território" são algumas das palavras-chave que estiveram presentes no decorrer da criação do projeto. Tanto estes tecidos como quase todos os materiais utilizados na peça foram reaproveitados.

Às 21,30 horas, são 100 os habitantes do Porto que pisam o palco do Grande Auditório - muitos pela primeira vez. "100% Porto" (com récita extra no domingo) é o título do projeto do coletivo germano-suíço Rimini Protokoll, que convoca 100 habitantes da cidade num espetáculo que traça o perfil demográfico e social do Porto: um autêntico mapa cartográfico vivo.

"Qual é o significado de lugar?" "O que mais gostamos na cidade?" "O que é que lhe falta?" "Como era dantes e como a imaginamos daqui para a frente?" O coletivo trabalhou em estreita colaboração com a equipa do TMP e com 100 participantes - cidadãos que representam a cidade através de critérios estatísticos, ordenados por idade, género, freguesia, agregado familiar e tipo de habitação; uma amostra, um corte transversal da sociedade que ora se plasma num mar de gente ora forma diferentes grupos e se individualiza. Através de uma lógica de nomeação em cadeia, chegaram a estes habitantes que dão corpo e voz ao Porto, matéria viva de que é feita uma cidade. "100% Porto" é um exercício artístico para um dia muito especial e é um modo diferente de traçar o perfil demográfico e social do Porto e de pensar as estatísticas e dinâmicas da cidade.

Ainda neste sábado, pelas 23,30 horas, o Palco do Rivoli torna-se teto: no Understage e em coprodução com Matéria Prima, surge uma colaboração improvável: Dona Rosa & Sopa de Pedra.

As Sopa de Pedra são um grupo vocal feminino dedicado ao canto à capela de canções de raiz tradicional. Habituadas desde pequenas a cantar e cada qual vinda do seu canto do Mundo, acabaram por se encontrar no Porto, em 2012, e criar este "ninho" onde partilham um amplo interesse por toda a cultura do cancioneiro popular e pelas composições de cantautores portugueses que nela se inspiraram, como Zeca Afonso, José Mário Branco, João Loio e Amélia Muge. Para esta celebração, encenaram uma atuação surpreendente e com um mistério por desvendar, em que a pureza da música se sobrepõe à configuração vulgar de um espetáculo musical. A introdução aos mistérios é conduzida por uma mulher-coragem feita cantora, que percorreu meio mundo sem nunca ter atuado na sua cidade, o Porto - a Dona Rosa. Passou despercebida, mas havia aqui um lugar reservado para ela, e será ela, à procura de salvar o passado, com mais esperança do que tristeza, que apenas com a sua voz cristalina irá preencher os silêncios e seguramente acender muitas luzes. Quem não a conhecia não a irá esquecer!

Também às 23,30 horas, a festa House of Groove Ball começa lentamente a "aquecer". Esta é uma festa noturna queer que estabelece uma reinterpretação portuense dos grandes salões de dança novaiorquinos dos anos 90. Com uma duradoura ligação ao panorama local e internacional das tendências atuais, a organização da festa centra-se na plataforma House of Groove Ball que apoia monetária e criativamente artistas queer, funcionando como programa de residências e curadoria para o trabalho que desenvolvem. As festas Groove Ball acontecem bimestralmente no Maus Hábitos - Espaço de Intervenção Cultural e, pela primeira vez, decorrem no Teatro Rivoli, com um alinhamento especial pensado para este aniversário.

A entrada é gratuita e os bilhetes (para sábado e domingo) podem ser levantados na bilheteira do Rivoli no sábado, a partir das 10,30 horas, no máximo de dois bilhetes por pessoa e por espetáculo (sujeito à lotação das salas). Os bilhetes que ficarem disponíveis e que não forem levantados no sábado poderão ser levantados no domingo, a partir das 10,30 horas, nas mesmas condições.

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